01/05/10

a maçã

A julgar pelas notícias públicas, dir-se-ia que a situação económica nos PIGS é má e a dos não-PIGS é boa ou pelo menos razoável. A verdade é um pouco diferente. Nem a situação dos PIGS é tão má quanto parece nem a dos não-PIGS é tão boa quanto parece.
.
Os países católicos (aqui identificados, grosso modo, com os PIGS) dão sempre uma imagem pública pior do que aquilo que na realidade são, ao passo que os países protestantes (aqui identificados grosso modo com os não-PIGS) dão sempre uma imagem pública melhor do que aquilo que na realidade são. Vale a pena uma pequena analogia. A maçã portuguesa é tipicamente pequena, a côr não é homogénea, possui às vezes a casca enrugada. Mas é doce. A maçã importada da Nova Zelândia é grande, de um vermelho homogéneo, a casca é lustrosa. Mas não sabe a nada.
.
A razão é que a cultura católica é a única onde as pessoas, através do sacramento da confissão, são levadas a admitir os seus pecados perante terceiros. Na cultura protestante não existe tal coisa como o sacramento da confissão. Ao exteriorizar os seus pecados, os povos de cultura católica dão a impressão de serem mais pecadores do que os outros. Mas não são. Os outros são tão pecadores ou mais do que eles, só que não exteriorizam os seus pecados. Para quem goste de enumerar os pecados humanos, o melhor que tem a fazer é dirigir-se a um país católico, porque eles estão todos à superfície, na realidade, estão todos nos jornais.
.
Ao contrário daquilo que geralmente se crê, a cultura católica é, por isso, muito mais transparente do que a cultura protestante. Ela exterioriza facilmente os seus males e todos os seus pecados, ao passo que a cultura protestante esconde uns e outros. Recentemente um jornalista inglês que foi trabalhar para Itália admitiu que nos primeiros meses não gostou de viver no país. Mas depois de lá passar alguns meses, apercebeu-se da beleza do país e da sua cultura. Concluíu ele que aquilo que é bom em Itália não está à superficie.
.
Claro que não. Aquilo que está à superfície é sobretudo aquilo que é mau. Para conhecer aquilo que é bom em Itália é necessário penetrar na cultura italiana, que é bem capaz de ser uma das melhores do mundo, senão mesmo a melhor. Pelo contrário, num país protestante, como a Inglaterra, o que é bom está à superfície, mas quando se penetra profundamente nessa cultura encontram-se muitas coisas más. A cultura católica é um mistério onde, se se persistir, se sai quase de certeza maravilhado. Pelo contrário, a cultura protestante é uma ilusão de onde se sai quase sempre decepcionado.
.
Existem também razões filosóficas para esta diferença, de que não tratarei aqui. O ponto importante que quero salientar é este. Nunca se pode julgar um país de cultura católica superficialmente e por aquilo que vem a público, porque aquilo que vem nos jornais dá uma imagem distorcida do país, muito pior do que aquilo que o país, na realidade, é. O contrário vale para um país de tradição protestante.
.
Por exemplo, a situação do défice orçamental e da dívida pública dos PIGS tem sido considerada calamitosa por que é medida em percentagem do PIB, que é o indicador público do tamanho da economia. Mas, como seria de esperar, o PIB dá uma imagem distorcida, e para pior, do tamanho da economia dos PIGS, significando que o défice e a dívida pública destes países não representam uma situação tão grave como superficialmente, e com base nos dados que são públicos, se faz crer. A razão é que existe nos PIGS uma enorme economia informal que não faz parte do PIB (ver aqui e aqui).
.
Pelo contrário, os países protestantes são os inventores e os campeões do marketing. Esta palavra reflecte tão genuinamente a cultura do protestantismo britânico que não existe sequer correspondente para ela nos países de tradição católica. O marketing visa, em primeiro lugar, fazer com que a aparência seja melhor que a realidade. E esta é uma das imagens de marca da cultura protestante.

1 comentário:

  1. Só falta saber se as "nossas" Marias que vão com as outras, vão acabar por drenar a Macieira!?

    ResponderEliminar