16/05/10

a mulher argentina



Há cerca de quatro anos visitei a Argentina pela primeira vez. Estive quinze dias repartidos por Buenos Aires, Tucuman (a cidade onde a Argentina foi fundada) e em Mar del Plata. Era um país que eu tinha muita curiosidade de visitar por duas razões principais.

Primeira, porque a Argentina era tradicionalmente o país mais rico da América Latina, uma espécie de elite da região, embora na altura em que o visitei já tivesse sido ultrapassado pelo Chile. Havia aquela rivalidade tradicional entre a Argentina e o Brasil, a primeira mais elitista, o segundo mais popular, que era também uma herança das diferenças entre os seus respectivos colonizadores, Espanha e Portugal, respectivamente - e eu pretendia observar as diferenças.

A segunda razão é que a prosperidade argentina, sobretudo durante a Guerra vendendo carne para os ingleses, mas que já vinha de trás, tinha feito com que algumas manifestações culturais da Argentina tivessem chegado à Europa e a Portugal, como era o caso do tango. A geração dos meus pais dançava o tango e, embora eu não dançasse, era uma dança que eu continuo a apreciar. Aprecio sobretudo a beleza feminina no tango. Embora seja uma dança que é comandada pelo homem que tocando com os dedos no corpo da mulher lhe comunica os próximos movimentos, era claro para mim que a estrela do tango era a mulher - a elegância, a sensualidade, a beleza, o glamour.

E foi essa beleza feminina que eu fui procurar na Argentina. O país tinha saído de uma aventura de dez anos semelhante à do euro, mantendo uma taxa de câmbio fixa e de paridade com o dólar americano, que na prática equivalia a ter uma moeda comum com os EUA. Essa política arruinou o país que em 2002 a teve de abandonar e deixar flutuar o peso. Foi nestas condições que eu andei à procura do meu estereótipo da mulher argentina glamorosa.

Foi uma decepção. Claro que havia mulheres bonitas nas ruas, mas o vestidinho já tinha muitos anos, e um dinheirinho para comprar um novo teria feito muito jeito. Aquele cabelo já não via cabeleireiro há meses. Teria dado jeito um dinheiro para comprar uns cosméticos para fazer reluzir a pele e fazer sobressaír os lindo olhos. E faltavam sobretudo os sapatos. Os sapatos que davam à perna da mulher argentina aquela beleza especial quando dançava o tango, não havia dinheiro para os comprar.
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Viam-se mulheres bonitas em Buenos Aires, Tucuman e Mar del Plata. Mas não reluziam. Faltava o dinheirinho para o cabeleireiro, para o sapatinho e para o vestidinho, mais uns cosméticos para compôr. Que pena.
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É assim que vai ficar a mulher portuguesa em breve.

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