Neste post afirmei que o Papa Bento XVI considera o catolicismo uma doutrina eminentemente racional. É preciso, no entanto, notar o conceito que o Papa tem de razão (e de verdade).
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Para o Papa, a razão não se encontra apenas na mente, seguindo a linha filosófica que tem origem em Aristóteles, passa por S. Tomás e é levada ao extremo por Kant. Não. O Papa vai buscar a linha filosófica que tem origem em Platão e passa por Santo Agostinho, segundo a qual a razão reside tanto na mente como no coração.
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Por exemplo, um homem cometeu um crime hediondo e foi condenado a prisão perpétua. Toda a gente está contra ele, excepto, normalmente, a sua mãe, que o protege, o acarinha, e o defende da ira de todos. Para o observador independente esta é uma atitude profundamente irracional, a de defender assim um criminoso. Este é o veredicto da razão da mente.
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Analisando a atitude da mãe com maior cuidado, porém, a conclusão é a de que se trata de uma atitude profundamente racional (a razão do coração). Se aquele homem, depois de ter cometido um crime hediondo, não tiver quem o defenda, quem goste dele e o acarinhe, ele vai tornar-se uma fera, e cometer crimes ainda piores. Só o amor incondicional da mãe o pode travar de prosseguir nessa senda.
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Posto mais geralmente, uma sociedade onde as pessoas, depois de terem cometido todos os pecados, não tenham, ainda assim, alguém que goste delas, vai tornar-se uma sociedade extremamente violenta. São pessoas que não têm nada a perder. É por isso que o amor incondicional da mãe (ou de qualquer outra pessoa) é profundamente racional - trava a violência e favorece a vida.
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Percebe-se certamente que a razão da mente é essencialmente um atributo masculino e a razão do coração um atributo essencialmente feminino. Aquilo que a filosofia moderna fez foi deitar fora a razão do coração, e deixar apenas a razão da mente. Foi isso que Kant fez. Não surpreende que a sociedade moderna se tivesse tornado mais violenta. E as grandes manifestações modernas de violência ocorreram precisamente na pátria de Kant.
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Segue-se também que a filosofia moderna, ao deitar fora a razão do coração, acabou a desvalorizar as mulheres e a valorizar sobretudo os homens. É por isso que uma das características da modernidade é a de as mulheres quererem imitar os homens. É por isso também que as mulheres são desvalorizadas nos países protestantes (como a Alemanha), em relação à consideração que recebem nos países católicos (como Portugal, por enquanto).
Esse raciocínio falha logicamente em dois pontos:
ResponderEliminar1. A sociedade moderna não é mais nem menos violenta que outras quaisquer na História.
2. Em bom rigor, esse argumento de que as mulheres querem imitar os homens cai por uma razão. Porque se excluirmos as classes privilegiadas, por tudo quanto é sítio homens e mulheres sempre trabalharam.