05/05/10

uma multidão

A saída do euro e a criação de uma nova moeda nacional - a que chamei bento - vai fazer surgir em Portugal uma multidão de novas e pequenas empresas, a maior parte empresas familiares, que descobrirão oportunidades de negócio para substituír as importações e prover às exportações acrescidas. A agricultura e as pescas portuguesas vão ser restauradas depois de anos em que se pagou para as destruir. Sectores tradicionais da indústria portuguesa vão renascer, como os texteis, vestuário e calçado.
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As empresas mais sacrificadas vão ser as multinacionais cujos produtos no país terão preços agora mais elevados, na minha opinião 25% a 30% mais elevados, e inicialmente talvez ainda mais. Estão neste caso, as empresas produtoras de automóveis, as cadeias de distribuição internacional como o IKEA, o Toys are Us, etc., os bancos internacionais que se desinteressarão de Portugal, etc.
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As empresas públicas portuguesas estarão também sujeitas a um downsizing considerável. Nuns casos, ele resultará da sua própria actividade (v.g., TAP), noutros será o resultado da enorme adversidade que se vai gerar no país contra o sector público, em particular contra os políticos e gestores de grandes empresas públicas e, secundariamente, contra o alto funcionalismo público que será justamente acusado de ter privilégios que mais ninguém tem.

9 comentários:

  1. PA,

    Num cenario desses, vai haver subida em flecha da inflacao. Inflacao essa que implicara uma subida nos salarios que contrabalancara a competitividade acrecida da economia portuguesa (ganhamos competitividade com a desvalorizacao da moeda mas perdemo-la com o aumento dos custos de producao) devido ao efeito das expectativas.

    Essa subida da inflacao so pode ser controlada controlando ferreamente os salarios.


    Ora controlo ferreo nos salarios e' exactamente o que os gregos estao a fazer. E num cenario desses eles vao atingir os objectivos de aumentar a sua competitividade (vao poder produzir a custos menores) sem comprometer a sua presenca no mercado europeu. A longo prazo e' uma jogada melhor do que a saida do euro.

    Num cenario como o apresentado pelo PA veriamos reacender todos os animais exoticos que julgavamos mortos e enterrados desde os anos 70 e 80: greves gerais, poder dos sindicatos, PCP com 15% do voto, etc, etc... Estes factores tornariam a nossa economia ainda menos competitiva e afungentariamos ainda mais o capital estrangeiro.

    A nao ser que acreditemos, como o PA, que subitamente toda a gente se converte ao catolicismo e passa a gostar de viver com menos dinheiro no bolso. Isso e' algo que me custa um bocado a acreditar.

    Custa-me ainda mais a acreditar nisto do que no dogma da infalibilidade do Papa :):):):)

    Rui Silva

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  2. Outro aspecto interessante que este sistema causaria seria a emigracao. Que estimulo e' que os "melhores" teriam para viver numa sociedade que regrediu 20 ou 30 anos?

    Com uma vantagem, ha' 20 ou 30 anos havia barreiras serias 'a emigracao (incompatiblidade de graus academicos, desconhecimento da lingua, fronteiras fisicas com vistos de residencia, etc). Hoje em dia nada disso existe: Berlim, Paris ou Londres esta' 'a distancia de um voo low-cost.

    Mais uma vez a solucao e' regressao: se abandonamos o euro tambem devemos abandonar os privilegios que a integracao europeia nos trouxe porque senao as pessoas vao pura e simplesmente fugir. Ninguem vai querer viver num remake de 1983, 1968 ou 1927 (que e' o que o PA nos propoe em nome de um rigor ideologico e doutrinal que nao faz sentido no mundo real).

    Rui Silva

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  3. Caro PA,

    Esta filmar a realidade actual com um camera super 8 ! Julga que a competição se faz pelo exclusivamente pelo preço. Diga lá, o seu carro é Dácia romeno ? Compra roupa numa loja chinesa ? Almoça todos os dias no Mcdonalds ?

    Verdadeiramente, o que permitiu que o sector do calçado hoje exporte 90% da produção a um preço médio de 20€ o par foi o Euro. Este sector dito tradicional já não o é !!! Por causa de não poder competir pelo preço é que foi forçado a subir na cadeia de valor. Este sector soube como fazê-lo. Outros não.

    O mesmo se passaria num cenário de saída do Euro. Nem todos saberiam tirar proveito do reforço da competitividade pelo preço. Acha que os elctrodomésticos da Briel iriam competir com a Sony ? Os turistas que passam férias no Mónaco passariam a ir para o Algarve por ser mais barato ? Ou a Bial teria um acréscimo de vendas pelo facto dos seus medicamentos ficarem mais baratos ? O mundo das empresas reais não funciona exclusivamente pelo preço ! É algo que os ex-macroeconomistas, como você, tem dificuldade em perceber !

    Numa eventual saída do Euro, quem seria prejudicado seriam sobretudo os sectores da construção civil, imobiliário e financeiro, que cresceram devido à conjuntura de juros baixos. Nesse cenário, os 50% de operadores do sector das CCOPúblicas em excesso em PRT face à média da OCDE desapareceriam rapidamente. O Sector financeiro teriam um grande downsizing devido à implosão da procura e concorrência acrescida e chegaria também curiosamente aos gestores de activos, onde se encontra a sua firma...

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  4. As empresas públicas portuguesas estarão também sujeitas a um downsizing considerável. Nuns casos, ele resultará da sua própria actividade (v.g., TAP), noutros será o resultado da enorme adversidade que se vai gerar no país contra o sector público, em particular contra os políticos e gestores de grandes empresas públicas e, secundariamente, contra o alto funcionalismo público que será justamente acusado de ter privilégios que mais ninguém tem.

    Mais uma vez tenho de discordar. Pelo contrario, as pessoas vao procurar no funcionalismo publico uma alternativa viavel e prestigiante a um sector privado atrasado, incipiente e instavel (designacoes alternativas de familiar).

    A Funcao Publica nao sairia manchada, pelo contrario sairia prestigiada.

    Peco desculpa por me repetir mas isto parece-se demasiado com o Portugal do final do Estado Novo/ inicio da democracia. Com a diferenca que nesse tempo pelo menos existia investimento estrangeiro e neste cenario tal nao existiria.

    Rui Silva

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  5. A ideia do PA, ao julgo perceber, é promover a produção nacional; e nisso estamos inteiramente de acordo.

    Agora, os meios para o fazer é que são diferentes; o que se observa é que não há lugar na Aldeia Global para a produção nacional, visto que:

    1) não somos eficientes na gestão empresarial.

    2) não exploramos devidamente as nossas vantagens comparativas (clima, terra, mar, floresta, etc)

    3) a concorrencia do oriente é feroz, e desleal, no sentido em que produz sem critérios humanos e ambientais, obtendo custos de produção imbativeis.


    Observações:

    a) Para combater o ponto 1) a solução do PA seria a ideal. É dificil, de facto, mudar a mentalidade dominante (católica).

    b) Para explorar o ponto 2) era necessario termos politicos que pensassem o mundo empresarial no contexto portugues, estudando sector a sector as potencialidades de portugal e incentivando investimentos activamente.

    c) Para combater o ponto 3) só mesmo introduzindo barreiras à entrada.


    Conclusão:

    - O que me parece, é que hoje, o ponto 3) e a alinea c) são os mais relevantes; é esse o grande motivo de hoje a industria exportadora ter desaparecido, pelo menos aquela aonde tinhamos know how, é claro o ponto 1) deu uma ajudinha.

    - Ora, tal não se combate com desvalorizações de moeda... seriam precisas desvalorizacoes muito grandes para ganhar competividade aos chineses.

    - Por outro lado afectava o custo de importação de produtos que necessitamos para produzir, nomeadamente energia.

    - É bem mais práctico dificultar a importação (de algus produtos) aumentando-lhe o preço à chegada, principalmente produtos que concorram com os tais sectores que deviamos ter estudado e referidos no ponto 2)

    - Barreiras à entrada não é o que os EUA (um país liberal) fazem no mercado AÇO para proteger a industria metalomecanica??


    RB

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  6. Caros comentaristas, o pequeno é belo!

    Small is beautiful!

    Multidões de coisas pequenas... poder e responsabilidades distribuidas, pouca corrupção, muito emprego!!

    p.s A Ferrari costumiza, quase personaliza os seus produtos, não produz em massa... tem uma lista de encomendas para os próximos 3 anos...

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  7. PA, leia:
    http://balancedscorecard.blogspot.com/2010/05/o-que-todo-o-pais-precisa-de-fazer.html

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  8. Meme,

    Quantas empresas no Mundo e' que se podem dar ao luxo de trabalhar como a Ferrari? E depois a Ferrari tambem exporta (a maior parte do seu negocio e' para o estrangeiro!) e o que o PA propoe e' que o pais se feche (em nome de um qualquer ideal catolico em que apenas ele acredita).

    Rui Silva

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  9. Rui,
    Moeda desvalorizada descem as importações sobem as exportações (atrai-se investimento estrangeiro), as actuais importações serão substituidas por empresas nacionais, pleno emprego!
    Como a Ferrari há poucas no mundo... mas uma empresa como a Ferrari, Maseratti, Dolce&Gabana, etc... só poderiam ser originárias de um País Católico. Nestes países as empresas não produzem para massas, produzem para um target (cliente) bem definido e o seu produto é costumizado à medida do cliente, seja ele Italiano, Americano, Alemão, Chinês, Português.

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