O personalismo católico, por oposição ao individualismo protestante, constitui, quer na teoria quer na prática, a maior diferença entre catolicismo e protestantismo.
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O individualismo foi uma consequência inevitável da Reforma religiosa. Os protestantes rejeitaram a autoridade da Igreja e, portanto, do clero. Cada um passou a ser padre de si próprio, deixou de haver diferença entre aqueles que sabem mais e possuem outras virtudes (os padres) e aqueles que sabem menos e não as possuem (os leigos). Todos passam a ser iguais.
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Os moralistas escoceses do século XVIII (Hume, Smith, Ferguson) teorizam largamente nesta base individualista, colocando o ênfase na natureza humana - aquilo que é igual nos homens - e desprezando a ideia católica de personalidade - aquilo que é diferente nos homens. É assim que sobrevalorizando aquilo que é igual face àquilo que é diferente que passa a ser possível teorizar sobre a sociedade em termos de processos de massa. Foi isso que fez Adam Smith, o fundador da Economia. A teorização do mercado como processo social não teria sido possível sem primeiro reduzir os homens a uma condição em que todos são essencialmente iguais.
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Esta diferença entre personalismo e individualismo tem tantas implicações e explica tanto a situação em que se encontram actualmente os PIGS que praticamente daria para escrever um livro. Analisarei aqui uma delas.
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Supunhamos uma empresa multinacional alemã (ou inglesa ou americana) com 20 mil trabalhadores e produzindo num certo sector. Será que uma empresa multinacional portuguesa, também com 20 mil trabalhadores, conseguiria fazer concorrência, em termos de produtividade, à empresa alemã? E, em caso negativo, qual seria a solução portuguesa para fazer concorrência à multinacional alemã?
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A resposta à primeira pergunta é obviamente negativa. Enquanto na empresa alemã, os procedimentos de produção e de comportamento dentro da empresa, definidos pela gestão, são rigorosamente cumpridos por todos e sem excepção, na empresa portuguesa cada trabalhador iria questionar cada um desses procedimentos e dizer que se devia fazer de outra maneira ("a sua maneira"), e não daquela.
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É impossível gerir uma empresa portuguesa com 20 mil trabalhadores, excepto se fôr pública, porque o Estado estará lá então para aparar as perdas. Pelo contrário, existem numerosas empresas privadas alemãs com 20 mil trabalhadores ou mais, como existem americanas, inglesas, etc.
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Significa isto então que os portugueses (ou gregos ou italianos ou espanhóis) nunca serão capazes de fazer concorrência a uma multinacional alemã de 20 mil trabalhadores?
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São, não através de uma empresa multinacional de 20 mil trabalhadores, mas através de 4 mil empresas familiares de 5 trabalhadores cada, porque aí cada português pode verdadeiramente fazer a coisa à sua maneira.
Yeah right. Alguma vez? Isso implicaria necessariamente não existirem economias de escala e ser sempre tudo mais caro e estarmos condenados a pior qualidade de vida...
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