16/05/10

questões essenciais

Por que é que os países católicos - os PIIGS - se deixaram resvalar para esta situação económica e social dramática (como vamos ver nas próximas semanas), sem que se tenha gerado um consenso em termos de soluções a adoptar que, a tempo, evitasse chegarem a este ponto? E porque é que os países protestantes conseguem fazê-lo?
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A resposta tem a ver com a diferente história religiosa destes dois grupos de países. A Reforma religiosa nos países protestantes questionou as verdades essenciais da vida - que eram as verdades do catolicismo - e dividiram profundamente esses países, os quais foram o palco de numerosas e sangrentas guerras religiosas. Aprenderam que podiam discutir questões essenciais da vida humana, mas tinham, não obstante, de o fazer com civilidade, porque a alternativa era a guerra.
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Os países católicos, pelo contrário, proibiram a discussão pública dessas questões essenciais. Foi essa a função da Inquisição. A Inquisição poupou guerras religiosas e milhões de vidas, especialmente em Portugal e Espanha. Mas ficou a ideia de que as questões essenciais da vida não são para serem discutidas em público.
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Por isso, a característica principal das discussões públicas em Portugal (e nos outros PIIGS) é a de que fogem imediatamente das questões essenciais, para se concentrarem em aspectos laterais e superficiais. Nunca se discute o cerne da questão e, se por acaso, isso acontece, as pessoas imediatamente se dividem e agridem. Na tradição católica, a discussão das questões essenciais da vida é reservada a uma elite, e a discussão é para ser tida em privado.
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Reside aqui a razão porque os PIIGS foram progressivamente arrastados para a situação em que se encontram, que se podia prever à distância, mas cuja cultura impedia que lhe pusessem um travão.

1 comentário:

  1. "A Inquisição poupou guerras religiosas e milhões de vidas, especialmente em Portugal e Espanha."

    O fascismo espanhol também poupou a libertação de milhões sob a forma de uma revolução anarquista, com possíveis consequências violentas. Assim como o ascenso do nazismo, que impediu a revolução proletária em toda a Europa com uma possível transformação social que assassinasse imensos membros de uma burguesia no poder há mais de 100 anos.
    O seu conservadorismo é fétido e, se deus - com letra minúscula, porque invocado em vão - quiser, as coisas hão-de mudar em breve, e não será para o seu lado.

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