03/05/10

relativismo cultural

"«Qual destas tradições é a melhor?» PA
Pois, talvez nenhuma delas seja melhor que a outra, uma vez que assentam em culturas diferentes; e as culturas não são melhores ou piores, são o que são e devem simplesmente ser respeitadas."
(Ricciardi, na caixa de comentários aqui)
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Na opinião do Papa Bento XVI, a questão formulada acima representa a questão mais importante da modernidade. É a questão do relativismo cultural. Devem duas ou mais culturas ser encaradas numa base de igualdade, uma valendo tanto como a outra, ou, pelo contrário, existe uma que é melhor que as outras?
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Na sua vastíssima obra teológica o Papa responde que a cultura católica é melhor que as outras, porque é a única perfeitamente racional e verdadeira, embora eu tenha de admitir que a sua justificação, porque se limita largamente à esfera teológica, me parece, às vezes, insuficiente.
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Eu próprio acredito hoje que a doutrina católica é melhor que as outras porque é a única perfeitamente racional e é isso precisamente que me seduziu nela. É preciso prová-lo, e já comecei a dar a minha contribuição nesse sentido (cf. aqui).
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Existem, na minha opinião, duas partes na explicação de a doutrina Católica ser superior às outras.
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A primeira é a de que a doutrina Católica é a única, pelo menos na modernidade Ocidental, que explicitamente se propõe maximizar a vida humana, ao ponto de ambicionar torná-la eterna (Cat.: Prólogo; 1). Parece-me não existir discussão possível acerca deste ponto, o de que a maximização da vida humana é o mais alto dos valores ou ideais, já que nenhum outro valor ou ideal faz sentido sem ela.
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A segunda parte respeita à racionalidade do Catolicismo e esta é mais problemática, já que muitas pessoas vêem o catolicismo como uma doutrina de fé, e não de razão. A verdade, porém, é que, à luz do objectivo de maximização da vida humana, tudo aquilo que o catolicismo afirma faz perfeito sentido racional (v.g., oposição ao aborto, ao casamento entre homossexuais, à eutanásia, aos métodos anti-concepcionais, o favorecimento do casamento e da família, etc.)
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Eu penso que a visão do catolicismo como doutrina racional é uma das principais contribuições do Papa Bento XVI à filosofia e à teologia moderna. O catolicismo, afirma o Papa, é uma doutrina eminentemente racional, e o próprio Deus católico é Logos, razão. A fé é apenas o último passo da razão, o limite da razão, o ponto a que se chega como último degrau da razão, a crença perfeitamente racional.
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Depois de ter respondido racionalmente a todas as questões sobre a realidade humana, quando finalmente se chega à última questão "Deus existe?", a única resposta racional é "Sim", não porque se possa invocar quaisquer sinais objectivos da existência de Deus, mas porque a resposta "Não" levaria a negar racionalmente toda a realidade, incluindo a nossa própria existência. A fé em Deus aparece assim como a única atitude da razão (a atitude contrária, negar a existência de Deus, seria irracional).
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Fica ainda a questão de saber porque é que a razão é tão importante para o Catolicismo. A resposta é que é a razão - e sobretudo ela - que favorece a vida humana. Num mundo governado inteiramente pela razão, todos os conflitos humanos se podem resolver pela palavra e pela razão (Logos), isto é, pacificamente. Sem a razão, vão-se resolver pela violência.

2 comentários:

  1. "Parece-me não existir discussão possível acerca deste ponto, o de que a maximização da vida humana é o mais alto dos valores ou ideais, já que nenhum outro valor ou ideal faz sentido sem ela."

    Parece-me que se está a precipitar demasiado neste argumento.
    Nenhum valor faz sentido sem a vida humana. Certo.
    Mas não é preciso que esta seja máxima para que outros valores façam sentido, só precisa de não ser nula.
    O PA ainda não referiu nenhum argumento que explique porque é que devemos sempre maximizar a vida, por oposição a manter um certo "nível" de vida, a partir do qual nos preocuparíamos mais com outros valores.

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  2. Hummm...

    I

    Não me parece em nada que a oposição ao casamento entre homossexuais faça sentido racional à luz do objectivo de maximização da vida humana. E o mesmo face ao favorecimento do casamento heterossexual.

    Um homossexual não vai passar a ter sexo com mulheres e muito menos com objectivos procriativos por estar ou não previsto o casamento com pessoas do mesmo sexo. Logo, à luz desse objectivo tal coisa é totalmente irrelevante.

    Favorecimento do casamento idem aspas. Se eu quiser ter filhos não preciso de casamento nenhum nem de norma jurídica alguma para esse efeito.

    II

    Quanto à questão "Deus existe", essa lógica leva necessariamente ao agnosticismo. Por que razão a resposta "Não" leva à negação racional da realidade? É que não nega nem deixa de negar.

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