13/05/10

bombo da festa

O Papa Bento XVI é natural da pátria do Protestantismo – a Alemanha. Talvez por isso, na sua condição de teólogo e de académico, há mais de trinta anos que ele se vem batendo contra a atitude intelectual moderna de tratar a sociedade como se Deus não existisse. O Papa considera que a atitude Kantiana de excluír Deus do domínio da razão, remetendo-O para o domínio da fé, que é a imagem de marca da ciência moderna, é uma auto-mutilação da razão de consequências incalculáveis.
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No domínio das ciência sociais, como a Economia, é fácil reconhecer razão ao Papa. A Ciência Económica também trata a sociedade como se Deus não existisse. Pode perguntar-se que diferença faz a um economista incluír ou excluír Deus da sua ciência. Antes de responder, convém acentuar que a inclusão de Deus é a única atitude realista, porque não existe, nem nunca existiu, uma sociedade sem Deus. Quanto à resposta, a diferença é abissal. A inclusão de Deus faz olhar o homem como tendo sido feito à imagem e semelhança de Deus. A sua exclusão, retira todo este estatuto ao homem. A principal diferença é, pois, a desvalorização do ser humano e, consequentemente, da razão humana.
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Desaparece o conceito de autoridade pessoalizada (à imagem de Deus) a qual é substituída por autoridades impessoais, como a lei, a democracia e o mercado. A tradição personalista do cristianismo, em que cada homem é uma criação de Deus, e por isso é um ser único, irrepetível e valioso, cede o lugar ao individualismo protestante e liberal, de matriz anglo-saxónica, onde cada homem é essencialmente igual aos outros, ou ainda ao colectivismo protestante e socialista, de matriz germânica, onde cada homem é insignificante perante a sociedade.
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O homem e a razão humana são substituídos por processos impessoais, que são a-racionais. Quem decide a afectação dos recursos na sociedade não é nenhuma autoridade pessoal, a quem se pode pedir responsabilidades, mas o processo impessoal do mercado, ao qual não se pode pedir responsabilidades ou exigir racionalidade. Quem governa um país não é nenhuma autoridade pessoal, mas alguém que está escravizado à vontade do povo, e ao povo não é possível pedir responsabilidades nem exigir racionalidade.
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O Papa tem razão. Quando se tira Deus da equação, cada homem torna-se um bombo da festa do mercado e da democracia. É o que está a acontecer agora aos portugueses.

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