18/05/10
não
Pacote de emergência para salvar o Euro: Americanos dizem não (aqui) e alemães parecem voltar com a palavra atrás (aqui).
16/05/10
questões essenciais
Por que é que os países católicos - os PIIGS - se deixaram resvalar para esta situação económica e social dramática (como vamos ver nas próximas semanas), sem que se tenha gerado um consenso em termos de soluções a adoptar que, a tempo, evitasse chegarem a este ponto? E porque é que os países protestantes conseguem fazê-lo?
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A resposta tem a ver com a diferente história religiosa destes dois grupos de países. A Reforma religiosa nos países protestantes questionou as verdades essenciais da vida - que eram as verdades do catolicismo - e dividiram profundamente esses países, os quais foram o palco de numerosas e sangrentas guerras religiosas. Aprenderam que podiam discutir questões essenciais da vida humana, mas tinham, não obstante, de o fazer com civilidade, porque a alternativa era a guerra.
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Os países católicos, pelo contrário, proibiram a discussão pública dessas questões essenciais. Foi essa a função da Inquisição. A Inquisição poupou guerras religiosas e milhões de vidas, especialmente em Portugal e Espanha. Mas ficou a ideia de que as questões essenciais da vida não são para serem discutidas em público.
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Por isso, a característica principal das discussões públicas em Portugal (e nos outros PIIGS) é a de que fogem imediatamente das questões essenciais, para se concentrarem em aspectos laterais e superficiais. Nunca se discute o cerne da questão e, se por acaso, isso acontece, as pessoas imediatamente se dividem e agridem. Na tradição católica, a discussão das questões essenciais da vida é reservada a uma elite, e a discussão é para ser tida em privado.
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Reside aqui a razão porque os PIIGS foram progressivamente arrastados para a situação em que se encontram, que se podia prever à distância, mas cuja cultura impedia que lhe pusessem um travão.
a mulher argentina
Há cerca de quatro anos visitei a Argentina pela primeira vez. Estive quinze dias repartidos por Buenos Aires, Tucuman (a cidade onde a Argentina foi fundada) e em Mar del Plata. Era um país que eu tinha muita curiosidade de visitar por duas razões principais.
Primeira, porque a Argentina era tradicionalmente o país mais rico da América Latina, uma espécie de elite da região, embora na altura em que o visitei já tivesse sido ultrapassado pelo Chile. Havia aquela rivalidade tradicional entre a Argentina e o Brasil, a primeira mais elitista, o segundo mais popular, que era também uma herança das diferenças entre os seus respectivos colonizadores, Espanha e Portugal, respectivamente - e eu pretendia observar as diferenças.
A segunda razão é que a prosperidade argentina, sobretudo durante a Guerra vendendo carne para os ingleses, mas que já vinha de trás, tinha feito com que algumas manifestações culturais da Argentina tivessem chegado à Europa e a Portugal, como era o caso do tango. A geração dos meus pais dançava o tango e, embora eu não dançasse, era uma dança que eu continuo a apreciar. Aprecio sobretudo a beleza feminina no tango. Embora seja uma dança que é comandada pelo homem que tocando com os dedos no corpo da mulher lhe comunica os próximos movimentos, era claro para mim que a estrela do tango era a mulher - a elegância, a sensualidade, a beleza, o glamour.
E foi essa beleza feminina que eu fui procurar na Argentina. O país tinha saído de uma aventura de dez anos semelhante à do euro, mantendo uma taxa de câmbio fixa e de paridade com o dólar americano, que na prática equivalia a ter uma moeda comum com os EUA. Essa política arruinou o país que em 2002 a teve de abandonar e deixar flutuar o peso. Foi nestas condições que eu andei à procura do meu estereótipo da mulher argentina glamorosa.
Foi uma decepção. Claro que havia mulheres bonitas nas ruas, mas o vestidinho já tinha muitos anos, e um dinheirinho para comprar um novo teria feito muito jeito. Aquele cabelo já não via cabeleireiro há meses. Teria dado jeito um dinheiro para comprar uns cosméticos para fazer reluzir a pele e fazer sobressaír os lindo olhos. E faltavam sobretudo os sapatos. Os sapatos que davam à perna da mulher argentina aquela beleza especial quando dançava o tango, não havia dinheiro para os comprar.
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Viam-se mulheres bonitas em Buenos Aires, Tucuman e Mar del Plata. Mas não reluziam. Faltava o dinheirinho para o cabeleireiro, para o sapatinho e para o vestidinho, mais uns cosméticos para compôr. Que pena.
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É assim que vai ficar a mulher portuguesa em breve.
Primeira, porque a Argentina era tradicionalmente o país mais rico da América Latina, uma espécie de elite da região, embora na altura em que o visitei já tivesse sido ultrapassado pelo Chile. Havia aquela rivalidade tradicional entre a Argentina e o Brasil, a primeira mais elitista, o segundo mais popular, que era também uma herança das diferenças entre os seus respectivos colonizadores, Espanha e Portugal, respectivamente - e eu pretendia observar as diferenças.
A segunda razão é que a prosperidade argentina, sobretudo durante a Guerra vendendo carne para os ingleses, mas que já vinha de trás, tinha feito com que algumas manifestações culturais da Argentina tivessem chegado à Europa e a Portugal, como era o caso do tango. A geração dos meus pais dançava o tango e, embora eu não dançasse, era uma dança que eu continuo a apreciar. Aprecio sobretudo a beleza feminina no tango. Embora seja uma dança que é comandada pelo homem que tocando com os dedos no corpo da mulher lhe comunica os próximos movimentos, era claro para mim que a estrela do tango era a mulher - a elegância, a sensualidade, a beleza, o glamour.
E foi essa beleza feminina que eu fui procurar na Argentina. O país tinha saído de uma aventura de dez anos semelhante à do euro, mantendo uma taxa de câmbio fixa e de paridade com o dólar americano, que na prática equivalia a ter uma moeda comum com os EUA. Essa política arruinou o país que em 2002 a teve de abandonar e deixar flutuar o peso. Foi nestas condições que eu andei à procura do meu estereótipo da mulher argentina glamorosa.
Foi uma decepção. Claro que havia mulheres bonitas nas ruas, mas o vestidinho já tinha muitos anos, e um dinheirinho para comprar um novo teria feito muito jeito. Aquele cabelo já não via cabeleireiro há meses. Teria dado jeito um dinheiro para comprar uns cosméticos para fazer reluzir a pele e fazer sobressaír os lindo olhos. E faltavam sobretudo os sapatos. Os sapatos que davam à perna da mulher argentina aquela beleza especial quando dançava o tango, não havia dinheiro para os comprar.
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Viam-se mulheres bonitas em Buenos Aires, Tucuman e Mar del Plata. Mas não reluziam. Faltava o dinheirinho para o cabeleireiro, para o sapatinho e para o vestidinho, mais uns cosméticos para compôr. Que pena.
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É assim que vai ficar a mulher portuguesa em breve.
Proximamente
Proximamente em Portugal (aqui).
Alemães perdem paciência (aqui).
Alemães perdem paciência (aqui).
Quando Portugal sair do Euro - um acontecimento que me parece estar agora a curta distância no tempo - a região mais afectada, em termos de emprego, será Lisboa. É aí que se encontram os empregos do Estado e das empresas públicas - muitos deles posssuindo um carácter político, e portanto dispensável - que têm sido mantidos pelos níveis de endividamento tornados possíveis pela moeda única.
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Sem euro, e com o bento, os custos de financiamento serão mais elevados. O Estado e as empresas públicas serão os mais afectados e terão de despedir em massa. Lisboa deixará de ser a região do país onde, com mais probabilidade, se encontra emprego para passar aquela onde, com mais probabilidade, se fica no desemprego.
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Os desempregados vão regressar, em grande parte, às suas terras natais, onde frequentemente possuem casa e outros activos, como terras e sobretudo relações pessoais que lhes permitirão viver, e onde o custo de vida é apreciavelmente mais baixo que em Lisboa. A saída do euro vai fazer a descentralização económica do país que o euro só tem contribuído para centralizar.
14/05/10
infalibilidade do Papa
Depois de 36 anos de democracia e da tão reclamada liberdade de expressão do pensamento, que ideias novas surgiram em Portugal que tenham contribuído para o bem comum, que benefícios trouxe então a liberdade de expressão do pensamento?
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Não me ocorre uma só.
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É certo que ideias novas de carácter económico, político e social foram introduzidas em Portugal nos últimos 36 anos. Mas nenhuma da autoria dos portugueses ou porque os portugueses tenham chegado a elas por qualquer consenso mais ou menos alargado. Foram todas importadas do estrangeiro ou impostas pelo estrangeiro.
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O princípio da infalibilidade do Papa que tanta adversidade gerou entre os chamados livres pensadores do século XIX tem um alcance prático que raras vezes tem sido posto em relevo. Na cultura católica quando se põe uma questão à discussão entre as pessoas, a conversa vai-se tornar interminável, sem que alguma vez se chegue a um consenso, por mínimo que seja, e mesmo as boas ideias que possam surgir se perdem no meio do ruído geral. É uma consequência do personalismo católico segundo o qual cada um tem em si uma chama de Deus.
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De maneira que esta cultura precisa de uma instituição que ponha fim à discussão interminável, divisiva, e sempre inconclusiva. É essa a função do princípio da infalibilidade do Papa. "Acabou-se a conversa! É assim e não há mais discussão. Maria era Virgem, ponto final. Foi um milagre de Deus"
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Se não fosse assim, ainda hoje estaríamos a discutir ferozmente entre facções se Maria era virgem ou não. Foi por estas questões que se geraram as guerras religiosas na Europa que mataram milhões de pessoas. A solução católica, mais uma vez, foi a mais racional. Há um homem que decide a contenda e põe fim à discussão. Acabou-se. É assim e acabou-se. Não se fala mais no assunto. Não morre ninguém.
aleatórios
Aos comandos de qualquer processo social ou instituição deve estar um homem dotado de poder absoluto, que só responde perante Deus e não perante o povo, que assume as responsabilidades por tudo o que de mau esse processo ou instituição produzir, mas que também dispõe dos poderes para corrigir esses males. Esta é a mensagem essencial do catolicismo em matéria social.
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Todas as doutrinas sociais, como o liberalismo e o socialismo, que tiveram origem no protestantismo se opõem a este princípio. Ninguém deve ter um tal poder ou, então, se o tiver, deve responder perante o povo, para que o povo o possa substituír a qualquer momento. O liberalismo anglo-saxónico inclina-se para a primeira solução, daí o seu ênfase no mercado livre - ninguém está aos comandos. A social-democracia germânica inclina-se para a segunda solução, e daí o seu ênfase na democracia - quem está aos comandos deve responder perante o povo para que possa ser substituído.
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O conflito é, portanto, entre, por um lado, a autoridade exercida por uma pessoa que só responde perante Deus, e a autoridade exercida seja por ninguém seja pelo povo. É também o conflito entre ser uma razão-humana a comandar os processos sociais, ou nenhuma razão humana a fazê-lo, substituindo-a pelos chamados processos espontâneos ou impessoais, como o mercado ou a democracia.
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A solução católica apela, pois, à razão humana; a solução protestante exclui-a e os processos sociais passam a ter resultados aleatórios. Pode tudo correr muito bem, mas também pode tudo correr muito mal, porque nenhum homem está aos comandos com os poderes suficientes para controlar os resultados e os corrigir. A solução da cultura protestante exige um grande optimismo, uma fé pura kantiana que não está assente em nenhuma base racional.
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A cultura protestante, com a aleatoriedade dos seus resultados sociais, pode ser capaz de grandes coisas, se tudo correr bem, mas também pode levar a sociedade à desgraça, se tudo correr mal. A cultura católica nunca chega a este extremo da desgraça. Nesta cultura, o homem de poderes absolutos seria removido do seu lugar antes que isso acontecesse, nem que fosse pela força. A cultura católica, com o seu ênfase na razão humana, é uma cultura de equilíbrio, a força da gravidade que impede que o pêndulo entre em roda livre.
13/05/10
bombo da festa
O Papa Bento XVI é natural da pátria do Protestantismo – a Alemanha. Talvez por isso, na sua condição de teólogo e de académico, há mais de trinta anos que ele se vem batendo contra a atitude intelectual moderna de tratar a sociedade como se Deus não existisse. O Papa considera que a atitude Kantiana de excluír Deus do domínio da razão, remetendo-O para o domínio da fé, que é a imagem de marca da ciência moderna, é uma auto-mutilação da razão de consequências incalculáveis.
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No domínio das ciência sociais, como a Economia, é fácil reconhecer razão ao Papa. A Ciência Económica também trata a sociedade como se Deus não existisse. Pode perguntar-se que diferença faz a um economista incluír ou excluír Deus da sua ciência. Antes de responder, convém acentuar que a inclusão de Deus é a única atitude realista, porque não existe, nem nunca existiu, uma sociedade sem Deus. Quanto à resposta, a diferença é abissal. A inclusão de Deus faz olhar o homem como tendo sido feito à imagem e semelhança de Deus. A sua exclusão, retira todo este estatuto ao homem. A principal diferença é, pois, a desvalorização do ser humano e, consequentemente, da razão humana.
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Desaparece o conceito de autoridade pessoalizada (à imagem de Deus) a qual é substituída por autoridades impessoais, como a lei, a democracia e o mercado. A tradição personalista do cristianismo, em que cada homem é uma criação de Deus, e por isso é um ser único, irrepetível e valioso, cede o lugar ao individualismo protestante e liberal, de matriz anglo-saxónica, onde cada homem é essencialmente igual aos outros, ou ainda ao colectivismo protestante e socialista, de matriz germânica, onde cada homem é insignificante perante a sociedade.
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No domínio das ciência sociais, como a Economia, é fácil reconhecer razão ao Papa. A Ciência Económica também trata a sociedade como se Deus não existisse. Pode perguntar-se que diferença faz a um economista incluír ou excluír Deus da sua ciência. Antes de responder, convém acentuar que a inclusão de Deus é a única atitude realista, porque não existe, nem nunca existiu, uma sociedade sem Deus. Quanto à resposta, a diferença é abissal. A inclusão de Deus faz olhar o homem como tendo sido feito à imagem e semelhança de Deus. A sua exclusão, retira todo este estatuto ao homem. A principal diferença é, pois, a desvalorização do ser humano e, consequentemente, da razão humana.
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Desaparece o conceito de autoridade pessoalizada (à imagem de Deus) a qual é substituída por autoridades impessoais, como a lei, a democracia e o mercado. A tradição personalista do cristianismo, em que cada homem é uma criação de Deus, e por isso é um ser único, irrepetível e valioso, cede o lugar ao individualismo protestante e liberal, de matriz anglo-saxónica, onde cada homem é essencialmente igual aos outros, ou ainda ao colectivismo protestante e socialista, de matriz germânica, onde cada homem é insignificante perante a sociedade.
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O homem e a razão humana são substituídos por processos impessoais, que são a-racionais. Quem decide a afectação dos recursos na sociedade não é nenhuma autoridade pessoal, a quem se pode pedir responsabilidades, mas o processo impessoal do mercado, ao qual não se pode pedir responsabilidades ou exigir racionalidade. Quem governa um país não é nenhuma autoridade pessoal, mas alguém que está escravizado à vontade do povo, e ao povo não é possível pedir responsabilidades nem exigir racionalidade.
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O Papa tem razão. Quando se tira Deus da equação, cada homem torna-se um bombo da festa do mercado e da democracia. É o que está a acontecer agora aos portugueses.
porque lhes mandam
Três países da zona Euroa estão agora a ser governados por imposições de Bruxelas - Grécia, Portugal e Espanha. O diário espanhol El País conta como as coisas se passaram este fim-de -semana em Bruxelas. Não foi muito bom para o orgulho nacional e deve ter sido humilhante para os primeiros-ministros de Portugal e de Espanha.
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Nada que surpreenda. Estes países não são governáveis pelo povo, ou seus representantes. Precisam de uma elite que os governe. Sem elite, não conseguem pensar. O povo não está talhado para estas coisas. Teve sempre quem pensasse por ele. Com o povo aos comandos, embarcam em qualquer moda - como foi o caso do euro - que venha de lá de fora, do norte da Europa ou da América do Norte. Depois, aflitos, são incapazes de tomar medidas para corrigir a situação. Só quando lhes dizem o que têm de fazer, é que actuam, não porque estejam convictos, mas porque lhes mandam fazer.
Missionário da Razão
Na sessão de ontem no Centro Cultural de Belém, o Papa voltou a insistir num dos seus temas preferidos: a auto-mutilação da razão. Ele apelou ao espírito missionário dos portugueses para uma nova onda de evangelização, uma evangelização da razão.
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A razão que considera Deus fora do seu escrutínio (uma atitude que filosoficamente é atribuída a Kant) é uma razão incompleta e que decidiu auto-mutilar-se. Se Deus está fora do escrutínio racional não é possível chegar à Verdade, e sem Verdade não há justiça nem diálogo possível para resolver os problemas da humanidade. Resta a força.
11/05/10
símbolos
O pacote de ajuda ao euro aprovado este fim-de-semana em Bruxelas está a gerar grande oposição na Alemanha (cf. aqui). A opinião pública alemã tem uma grande aversão aos défices do Estado e à dependência do Banco Central face ao poder político. E por boas razões (cf. aqui).
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Entretanto, depois da euforia ontem, os mercados financeiros estão a caír hoje e o euro também. Ninguém acredita firmemente que aquilo que foi decidido em Bruxelas possa seguir em frente.
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Entretanto, na imprensa internacional, a Grécia, Portugal e Espanha são apresentados como os símbolos da irresponsabilidade.
Mas também
Depois das decisões tomadas este fim-de-semana pela União Europeia para apoio do euro, julgo que nos devemos agora preparar não apenas para o fim do euro. Mas também da UE.
total debt
"Fresh EU data shows that total debt is 224pc of GDP in Greece, 272pc in Spain, 309pc in Ireland, and 331pc in Portugal, each with a heavy reliance on external finance that can dry up at any moment. They are all being forced to impose austerity measures, risking a slide into deeper slump and a potential debt-deflation trap". (aqui)
10/05/10
tirar coelhos do chapéu
A minha opinião é que este pacote de 750 mil milhões de euros cozinhado durante o fim-de-semana pela UE é um grande bluff. Nem 10% do dinheiro existe. Os outros 90% são meros planos, wishful thinking. O plano compra algum tempo, mas não evita o destino final - a derrocada do euro.
soluções pessoalizadas
Só existem duas maneiras de governar uma comunidade humana - ou através de pessoas ou através de processos impessoais, como o mercado e a democracia. A primeira é a solução católica, a segunda a solução protestante. É esta a divisão fundamental entre a cultura católica e a cultura protestante - a contestação pela última da autoridade pessoal (do Papa).
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O protestantismo anglo-saxónico prefere o mercado, o protestantismo germânico prefere a democracia. Do primeiro nasceu a Economia, do segundo a chamada Ciência do Direito e a Ciência Política, e também a Sociologia. A oposição entre Mercado e Estado deriva da oposição entre estas duas correntes de pensamento protestante.
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Os processos impessoais podem saí fora do controlo humano. O liberalismo acredita nos poderes auto-reguladores do mercado, e o socialismo possui a mesma crença acerca dos poderes auto-reguladores da democracia. São ambos actos de fé, como a realidade está a demonstrar. O mercado falhou na presente crise, mas a democracia, que tornou os países ingovernáveis, também. Falharam os dois.
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Vamos ter de voltar a soluções pessoalizadas de governação e o tema central das ciências sociais vai passar a ser: como é que um homem, com poderes mais ou menos absolutos, governa um país? O catolicismo vai estar na moda outra vez. A Igreja Católica é a única grande comunidade humana no Ocidente governada por um homem com poderes mais ou menos absolutos.
09/05/10
acabar mal
Na Grécia, o poder político, apesar de maioritário, já começou a diluir-se, tornando o país a breve prazo ingovernável (cf. aqui). O mesmo vai suceder em Portugal.
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Numa democracia, não é fácil identificar os responsáveis pela situação calamitosa a que a Grécia já chegou e a que Portugal vai chegar, mas aproxima-se o momento em que as pessoas vão perguntar quem foi responsável por isto.
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Em Portugal, uma das figuras é obviamente o actual Presidente da República. É claro que não é apenas ele. Mário Soares é outra figura com pesadas responsabilidades. Mas eu nunca tive consideração intelectual por Mário Soares, acho-o um patarata intelectual que nem um curso de Direito foi capaz de fazer com mais de dez valores. Com o Professor Cavaco Silva é diferente. Ele é Professor de Economia.
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Que ele tenha lançado Portugal na aventura do euro, sendo economista, sempre foi para mim totalmente incompreensível, excepto aceitando a conclusão, a que acabei por chegar, que muitos anos antes disso ele havia aceite fazer uma troca que sempre me pareceu má. Tratou-se de trocar a sua profissão de Professor, que envolve procurar a verdade e transmitir a verdade, pela de político democrático, que envolve dizer a primeira mentira que o povo esteja disposto a aceitar.
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Foi isso que ele fez. Aquele slogan do seu tempo de que Portugal era um bom aluno da UE (como agora se está a ver: aprendeu tudo na ponta da língua) sempre me pareceu uma aceitação de infantilidade intelectual, da sua parte e extensível a todos os portugueses, que desafiava toda a imaginação. Um Professor não aceita ser aluno. Um Professor é sempre um Professor.
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Mas o Professor Cavaco Silva, a troco dos dinheiros da UE, aceitou renunciar à sua condição de Professor, e tornar-se um aluno e um político. Vai pagar um preço. Outro nas mesmas condições é o actual ministro Teixeira dos Santos. Vão ambos acabar mal, sem glória. As glórias que o povo dá são meramente passageiras.
corrida
O pânico que se apoderou dos governantes europeus, e que hoje leva a uma reunião de emergência dos ministros das finanças em Bruxelas, sumarizado pelo Joaquim neste post e seguintes, e amplificado hoje na imprensa internacional, é uma indicação de que a UE - e não apenas o euro - caminha rapidamente para o fim.
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A razão do pânico é simples. Teme-se a todo o momento uma corrida aos bancos.
08/05/10
a economia dos mortos
Aquilo a que eu chamo a economia dos mortos é sempre um exercício desagradável de fazer. Mas às vezes é necessário para repôr a verdade. Depois de escrever este post, eu fiquei a pensar nas críticas que imediatamente iriam surgir, a principal das quais se refere inevitavelmente ao número de oposicionistas que morreram por força da repressão exercida pelos regimes de Franco, Pinochet e pelo dos coroneis da Grécia. Associar regimes pessoalizados com a repressão política e a morte de oposicionistas é um exercício que tende a desacreditar os regimes de autoridade pessoalizada.
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A verdade, porém, é que as democracias mataram muito mais gente do que os regimes de autoridade pessoalizada. Estima-se que a democracia alemã que elegeu Hitler terá contribuido para a morte de 50 milhões de pessoas. As democracias populares dos países de Leste também mataram vários milhões. Mais recentemente, a democracia americana, desde 2003, já matou centenas de milhar de pessoas no Iraque. Só que ninguém é responsável. George Bush foi eleito democraticamente e a sua decisão de invadir o Iraque foi apoiada pela maioria da população. Quem responde pelas mortes? Ninguém.
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É claro que no caso da Alemanha, e na impossibilidade de executar a maioria do povo alemão que levou Hitler ao poder, sempre se executaram alguns criminosos de guerra. Mas também isso só foi possível porque a Alemanha perdeu a guerra. Se a tivesse ganho, ninguém seria responsabilizado pelos milhões de mortes que causaram. Ainda assim, é caso para perguntar, que regime político é esse - o da democracia - que elege criminosos para o poder?
realismo católico
Na base da Doutrina Social da Igreja está a mais natural e a mais elementar das sociedades humanas - a sociedade entre um homem e uma mulher. Não se trata como fazem as doutrinas saídas do protestantismo (v.g., liberalismo, socialismo) de especular sobre sociedades humanas a partir da nação ou da empresa. Nenhuma destas sociedades se aguentaria se não estivesse fundada na sociedade entre um homem e uma mulher - isto é, na família.
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O ênfase na família é uma manifestação do realismo católico, por oposição ao intelectualismo protestante.
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O ênfase na família é uma manifestação do realismo católico, por oposição ao intelectualismo protestante.
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Já agora, que falei em realismo católico, eu gostaria de fazer um comentário a este post do Rui a. Primeiro, para dizer que gostei dele. Está bem escrito e bem argumentado, como é apanágio do Rui. Só tem um defeito: vai contra a realidade. Não é realista. É que os países com os maiores Estados-Providência são precisamente os países mais ricos do mundo - os países escandinavos.
Guia para intelectuais
O Papa Bento XVI publicou dezenas de livros ao longo da sua vida, mas considera que o Catecismo é o mais importante de todos. Foi ele que presidiu à Comissão que elaborou o Catecismo promulgado pelo Papa João Paulo II em 1993.
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O Catecismo é uma obra de grande fôlego filosófico. Ele resume em cerca de 700 páginas e mais de 2000 artigos dois milénios de doutrina católica sobre a humanidade e o mundo. Para os intelectuais modernos que são agnósticos ou ateus, eu recomendo a leitura do Catecismo, porque ele não trata só de temas teológicos e litúrgicos ou de moralidade. Trata também de sociologia, de economia, de direito, de política, de ciência, e eu sugiro até que comecem por aqui.
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O Catolicismo visa maximizar a vida humana, e não existe um só artigo no Catecismo que, directa ou indirectamene, não esteja coerentemente orientado para esse fim. O Catecismo é uma obra -prima de racionalidade e coerência interna. Chamo ainda a atenção para a forma como está escrito. Os parágrafos (artigos) são curtos, e cada um contém uma ideia. As palavras são utilizadas com o seu significado preciso. Não existe possibilidade de andar aqui a discutir o significado das palavras. O Catecismo é também uma obra-prima de clareza.
a sorrir
Um conselheiro do ex-presidente Clinton afirmou uma vez no meio de uma crise especulativa, que na próxima reincarnação não aspirava ser nem Presidente nem Papa. Aspirava era a ser o mercado (de obrigações) porque o mercado agora é que manda.
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Ao retirar Deus dos negócios humanos, a que me referi num post anterior, o pensamento protestante retirou do governo da sociedade a autoridade pessoalizada, a quem Deus servia de modelo, e substituiu-a por autoridades impessoais - a autoridade do mercado, mais ao gosto do pensamento anglo-saxónico, e a autoridade do Estado democrático, mais ao gosto do pensamento germânico. É a estas duas autoridades impessoais que se deve atribuír a presente crise económica e financeira que, em breve, será também uma crise política.
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A autoridade política pessoalizada tem um só grande inconveniente. Ela permite às pessoas pessoalizarem na figura do governante todos os males reais e imaginários de que elas sofrem e de que sofre o país, frequentemente mais os imaginários do que os reais. Até à década de 70, os portugueses lançavam sobre Salazar a culpa de todos os males de que sofria o país - eram males mais imaginários do que reais. Portugal era na altura uma extraordinária máquina de crescimento económico, o país que ao longo de quase cinco décadas mais cresceu em toda a Europa Ocidental (11.2% em 1973) e o 24º país mais desenvolvido do mundo (hoje é 33º).
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Em Espanha, os espanhóis descarregavam sobre Franco, e na Grécia os gregos faziam-no sobre os coronéis. Na década de 80 todo o mundo, a começar pelos chilenos, apontava o dedo a Pinochet, como hoje faz em relação ao Papa a propósito da pedofilia. A verdade, porém, é que Salazar em Portugal, Franco em Espanha, os coronéis na Grécia, Pinochet no Chile entregaram performances económicas aos seus respectivos países que foram extraordinárias e inimitáveis por qualquer dos regimes democráticos que se lhes seguiu.
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O ponto importante é que contra as autoridades impessoais, como o mercado e o Estado Democrático, ninguém se pode revoltar, significando que estas autoridades não são reformáveis. A Grécia, primeiro, e agora também Portugal e a Espanha, estão a ir à ruína por causa dos ataques do mercado obrigacionista e dos excessos do Estado democrático. Não é possível fazer um 25 de Abril contra os abusos destas autoridades como foi possível fazer contra Marcello Caetano.
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Vamos ter de aguentar até ao fim os abusos que as autoridades impessoais do mercado e do Estado democrático nos queiram impôr. E só quando estivermos na ruína vamos compreender que uma autoridade pessoal, tudo medido, é preferível. Sempre se pode pode dialogar com ela, sempre se lhe pode pedir ou exigir que mude o curso dos acontecimentos, sempre se pode pôr fora, caso ela não atenda estes pedidos ou exigências. Salazar, Franco, os coronéis, Pinochet, onde quer que estejam, devem estar a sorrir.
fechar
Não é apenas o Euro que está a chegar ao fim como moeda comum aos países da Europa. É o próprio projecto de integração europeia - a própria União Europeia - que está em causa e vai chegar ao fim.
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A presente crise financeira não vai poder resolver-se sem controlos aos movimentos de capitais entre países, sem barreiras alfandegárias às importações, sem autoridades nacionais que disponham de poderes efectivos sobre as suas políticas económicas e financeiras.
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Os países vão ter de se fechar para poderem sobreviver.
São ideologias
A Reforma protestante do século XVI dividiu a Europa Ocidental em duas, a França sendo a fronteira. A norte, ficaram os países onde o protestantismo conseguiu avanços significativos e que ficaram marcados pelo predomínio da cultura protestante, como a Alemanha, a Holanda, a Dinamarca, a Suíça, os países escandinavos e a Grã-Bretanha, se bem que alguns enclaves católicos – como a Austria e a Irlanda – tivessem sobrevivido neste ambiente. A sul, ficaram os países onde o protestantismo foi barrado, e que mantiveram uma cultura homogeneamente católica, como Espanha, Portugal, a Itália e a ortodoxa Grécia. Portugal e Espanha, em particular, foram os líderes activos da chamada Contra-Reforma.
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A expansão colonial do século XVI ficou marcada pelo mesmo padrão. Os dois países da América do Norte - Canadá e EUA -, herdaram a cultura predominantemente protestante da Inglaterra. A América do sul e central herdou a cultura predominantemente católica dos seus colonizadores, Portugal e Espanha. O Brasil é hoje o país com a maior população católica do mundo, e a América Latina o centro do catolicismo no mundo.
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A origem do movimento protestante é atribuída geralmente a Lutero quando em 1517 afixou as suas célebres 95 teses de contestação à Igreja Católica na porta da Igreja de Wittenberg, na Alemanha. Na Suíça, Calvino viria a ser um dos maiores protagonistas do movimento protestante. Porém, antes de Lutero e Calvino, o movimento protestante tinha tido precursores na Inglaterra e na Boémia (actual República Checa), com John Wycliffe (1320-1384) e John Hus (1369-1415), respectivamente.
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O movimento protestante pulverizou-se extraordinariamente logo a apartir da sua fundação, a tal ponto que se estima existam hoje mais de trinta mil igrejas ou seitas protestantes e não é fácil, por isso, encontrar elementos comuns entre elas. Excepto um. A contestação da autoridade da Igreja Católica e, em particular, da autoridade do Papa, como mediadora entre Deus e o homem é o único traço que une a multiplicidade de seitas religiosas oriundas do protestantismo.
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Tendo negado a autoridade da Igreja, numa altura em que a religião possuía uma influência decisiva sobre o espírito das pessoas e a sua maneira de organizar a vida, a cultura protestante teve de desenvolver doutrinas que, em substituição da doutrina da Igreja, permitisse às pessoas sujeitas à sua influência refazerem a sua vida pessoal e social quer em termos espirituais quer em termos materiais. Neste último campo, duas doutrinas emergiram do protestantismo e ganharam forma a partir do século XVIII, uma na Grã-Bretanha, a outra na Alemanha.
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O Liberalismo moderno é um descendente directo do protestantismo britânico. Teve origem na muito anti-católica, presbiteriana Escócia, pela mão dos chamados moralistas escoceses do século XVIII, como Adam Ferguson, David Hume e Adam Smith. David Hume, o primeiro filósofo ateu moderno, é, por vezes, considerado o pai do liberalismo moderno. O seu amigo Adam Smith é considerado o pai da Ciência Económica Moderna, com a publicação em 1776 do seu livro “A Riqueza das Nações”.
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Ao mesmo tempo na Alemanha, e sob a influência do filósofo Immanuel Kant, às vezes chamado o filósofo do portestantismo, desenvolvia-se a corrente de pensamento que, prosseguindo em Hegel e Marx, viria a dar origem ao socialismo moderno. Uma das teses mais influentes de Kant foi a de considerar que somente os fenómenos possuindo manifestações exteriores podem ser objecto de discussão racional. Fenómenos de natureza espiritual, como a crença em Deus, ficam excluídos desta esfera. A partir de Kant, a marca distintiva do pensamento científico moderno passa a ser a exclusão de Deus de toda a consideração. Esta ideia vai directamente contra o pensamento católico, que não apenas defende que se pode chegar a Deus pela razão, como Deus é Ele próprio a razão e a fonte de toda a criação.
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A ideia que já se adivinhava em Hume e que atinge o seu apogeu em Kant de que para se ser científico ou racional não se pode falar em Deus possui enormes consequências.
A primeira é a de que o catolicismo, com a sua insistência na primazia da ideia de Deus, não é uma doutrina racional e científica, quando a realidade é que o catolicismo permanece a única doutrina que afirma a racionalidade da crença em Deus, ao passo que Kant e os filósofos modernos na sua linha remetem essa crença para o domínio puro da fé.
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Segunda, todos os cientistas, para serem verdadeiramente cientistas, têm de ser agnósticos ou ateus. Na Economia, e nas ciências sociais em geral, ser científico ou racional significa tratar a sociedade como se Deus não existisse. Esta atitude intelectual envolve uma contradição fundamental. Por uma lado força o economista e outros cientistas sociais a analisar a sociedade como se Deus não existisse, ao mesmo tempo que se confronta com os factos da realidade de uma maneira insanável. É que não existe sociedade humana, presente ou passada, que não tenha tido um Deus.
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Segue-se que as ciências sociais modernas não tratam de uma sociedade que existe. Elas tratam de uma sociedade que não existe – uma sociedade sem Deus – e, portanto, elas não podem descrever a realidade. Elas são, na melhor das hipóteses, sistemas de ideias que se pretendem impôr à realidade. São ideologias. Não pretendo discutir aqui se a realidade seria melhor ou pior com essas ideologias. Pretendo apenas enfatizar que aquilo que os jovens aprendem nas Faculdades de Economia, de Sociologia, de Direito, de Filosofia não tem nada que ver com a realidade. São meras construções mentais.
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A expansão colonial do século XVI ficou marcada pelo mesmo padrão. Os dois países da América do Norte - Canadá e EUA -, herdaram a cultura predominantemente protestante da Inglaterra. A América do sul e central herdou a cultura predominantemente católica dos seus colonizadores, Portugal e Espanha. O Brasil é hoje o país com a maior população católica do mundo, e a América Latina o centro do catolicismo no mundo.
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A origem do movimento protestante é atribuída geralmente a Lutero quando em 1517 afixou as suas célebres 95 teses de contestação à Igreja Católica na porta da Igreja de Wittenberg, na Alemanha. Na Suíça, Calvino viria a ser um dos maiores protagonistas do movimento protestante. Porém, antes de Lutero e Calvino, o movimento protestante tinha tido precursores na Inglaterra e na Boémia (actual República Checa), com John Wycliffe (1320-1384) e John Hus (1369-1415), respectivamente.
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O movimento protestante pulverizou-se extraordinariamente logo a apartir da sua fundação, a tal ponto que se estima existam hoje mais de trinta mil igrejas ou seitas protestantes e não é fácil, por isso, encontrar elementos comuns entre elas. Excepto um. A contestação da autoridade da Igreja Católica e, em particular, da autoridade do Papa, como mediadora entre Deus e o homem é o único traço que une a multiplicidade de seitas religiosas oriundas do protestantismo.
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Tendo negado a autoridade da Igreja, numa altura em que a religião possuía uma influência decisiva sobre o espírito das pessoas e a sua maneira de organizar a vida, a cultura protestante teve de desenvolver doutrinas que, em substituição da doutrina da Igreja, permitisse às pessoas sujeitas à sua influência refazerem a sua vida pessoal e social quer em termos espirituais quer em termos materiais. Neste último campo, duas doutrinas emergiram do protestantismo e ganharam forma a partir do século XVIII, uma na Grã-Bretanha, a outra na Alemanha.
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O Liberalismo moderno é um descendente directo do protestantismo britânico. Teve origem na muito anti-católica, presbiteriana Escócia, pela mão dos chamados moralistas escoceses do século XVIII, como Adam Ferguson, David Hume e Adam Smith. David Hume, o primeiro filósofo ateu moderno, é, por vezes, considerado o pai do liberalismo moderno. O seu amigo Adam Smith é considerado o pai da Ciência Económica Moderna, com a publicação em 1776 do seu livro “A Riqueza das Nações”.
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Ao mesmo tempo na Alemanha, e sob a influência do filósofo Immanuel Kant, às vezes chamado o filósofo do portestantismo, desenvolvia-se a corrente de pensamento que, prosseguindo em Hegel e Marx, viria a dar origem ao socialismo moderno. Uma das teses mais influentes de Kant foi a de considerar que somente os fenómenos possuindo manifestações exteriores podem ser objecto de discussão racional. Fenómenos de natureza espiritual, como a crença em Deus, ficam excluídos desta esfera. A partir de Kant, a marca distintiva do pensamento científico moderno passa a ser a exclusão de Deus de toda a consideração. Esta ideia vai directamente contra o pensamento católico, que não apenas defende que se pode chegar a Deus pela razão, como Deus é Ele próprio a razão e a fonte de toda a criação.
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A ideia que já se adivinhava em Hume e que atinge o seu apogeu em Kant de que para se ser científico ou racional não se pode falar em Deus possui enormes consequências.
A primeira é a de que o catolicismo, com a sua insistência na primazia da ideia de Deus, não é uma doutrina racional e científica, quando a realidade é que o catolicismo permanece a única doutrina que afirma a racionalidade da crença em Deus, ao passo que Kant e os filósofos modernos na sua linha remetem essa crença para o domínio puro da fé.
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Segunda, todos os cientistas, para serem verdadeiramente cientistas, têm de ser agnósticos ou ateus. Na Economia, e nas ciências sociais em geral, ser científico ou racional significa tratar a sociedade como se Deus não existisse. Esta atitude intelectual envolve uma contradição fundamental. Por uma lado força o economista e outros cientistas sociais a analisar a sociedade como se Deus não existisse, ao mesmo tempo que se confronta com os factos da realidade de uma maneira insanável. É que não existe sociedade humana, presente ou passada, que não tenha tido um Deus.
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Segue-se que as ciências sociais modernas não tratam de uma sociedade que existe. Elas tratam de uma sociedade que não existe – uma sociedade sem Deus – e, portanto, elas não podem descrever a realidade. Elas são, na melhor das hipóteses, sistemas de ideias que se pretendem impôr à realidade. São ideologias. Não pretendo discutir aqui se a realidade seria melhor ou pior com essas ideologias. Pretendo apenas enfatizar que aquilo que os jovens aprendem nas Faculdades de Economia, de Sociologia, de Direito, de Filosofia não tem nada que ver com a realidade. São meras construções mentais.
07/05/10
Roma
Excelente apreciação de Roma (aqui). Justamente a capital do catolicismo. Há de tudo em Roma, o religioso e o secular, o antigo e o moderno, o chic e o vulgar, o sério e o divertido, o caro e o barato, o feio e o bonito, a ordem e a anarquia. É a única cidade do mundo onde há de tudo, como se o mundo estivesse em Roma.
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Durante muitos anos não tive interesse em visitar Roma, porque tinha o preconceito que só lá iria encontrar padres. Quando a visitei pelo primeira vez há cerca de 10 anos, foi a cidade que mais me surpreendeu pela diferença entre aquilo que lá encontrei e aquilo que esperava encontrar. Durante muito tempo eu julguei que era Nova Iorque que tinha tudo o que existe no mundo.
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Estava enganado. É Roma. É a única cidade no mundo onde nos podemos sentir como se estivéssemos a viver há dois mil anos atrás, e tocar nas coisas que têm essa idade. Estão na rua, à disposição de todos. Mas esta não é a única característica de Roma. Na realidade, a característica única de Roma é que tem tudo o que há no mundo convivendo harmoniosamente lado a lado. Diga o que quer. Procure, porque isso existe em Roma.
06/05/10
por políticos
Não tarda que os bancos portugueses gerem, eles próprios, uma corrida aos depósitos, que os deitará por terra e com eles ao país. O problema é, em parte, que os dois maiores bancos do país são geridos por políticos, e não por verdadeiros banqueiros.
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Quem estiver atento já percebeu que os bancos não têm dinheiro. Mas esta de ir perguntar à Fitch se acha bem darem como garantia de empréstimos a contraír junto do Banco Central Europeu, os créditos sobre a "J. Silva, Lda - Carpinteiros", de Vilar de Andorinho, passa as marcas (aqui).
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Uma coisa é os bancos não terem dinheiro. Outra é andarem a publicitá-lo como já tinham feito esta semana (aqui). Ainda desencadeiam uma tragédia.
só vão parar
A permanência no euro obriga os países em dificuldades - os PIGS - a reduzirem os seus níveis de vida para valores compatíveis com a sua produtividade económica através de medidas explicitamente tomadas pelo governo - e, portanto, medidas que são contestáveis na rua e que têm um alvo, o governo.
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A saída do euro, e a consequente desvalorização das moedas nacionais, faz o mesmo - reduzir o nível de vida desses países para valores compatíveis com a sua produtividade - mas fá-lo através de um processo impessoal - o do mercado cambial - e, portanto, não existe ninguém contra o qual as pessoas se possam revoltar.
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Por isso, as manifestações de protesto na Grécia só vão parar quando o país saír do euro.
anarquia
Será hoje aprovado no Parlamento da Grécia o pacote de medidas de austeridade imposto pela UE e o FMI. Espera-se a aprovação do diploma porque o partido socialista no governo possui maioria absoluta. Entretanto, os sindicatos convocaram novas manifestações para hoje, depois das de ontem terem produzido três mortos. O Presidente grego afirma que o país está à beira do abismo e outros observadores perguntam-se se um país como a Grécia se pode auto-destruir.
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Aquilo que vai acontecer na Grécia nos próximos meses é um estado geral de anarquia. O Governo nunca irá conseguir impôr as medidas que hoje se prepara para aprovar, e acabará por caír, embora sendo maioritário. A partir de então o país torna-se ingovernável. Este período de caos pode durar até dois anos. As forças armadas acabarão por intervir e impôr um governo autoritário, esse sim, que irá resolver os problemas do país.
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Existe uma forte probabilidade de o mesmo cenário se estender a Portugal.
05/05/10
uma multidão
A saída do euro e a criação de uma nova moeda nacional - a que chamei bento - vai fazer surgir em Portugal uma multidão de novas e pequenas empresas, a maior parte empresas familiares, que descobrirão oportunidades de negócio para substituír as importações e prover às exportações acrescidas. A agricultura e as pescas portuguesas vão ser restauradas depois de anos em que se pagou para as destruir. Sectores tradicionais da indústria portuguesa vão renascer, como os texteis, vestuário e calçado.
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As empresas mais sacrificadas vão ser as multinacionais cujos produtos no país terão preços agora mais elevados, na minha opinião 25% a 30% mais elevados, e inicialmente talvez ainda mais. Estão neste caso, as empresas produtoras de automóveis, as cadeias de distribuição internacional como o IKEA, o Toys are Us, etc., os bancos internacionais que se desinteressarão de Portugal, etc.
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As empresas públicas portuguesas estarão também sujeitas a um downsizing considerável. Nuns casos, ele resultará da sua própria actividade (v.g., TAP), noutros será o resultado da enorme adversidade que se vai gerar no país contra o sector público, em particular contra os políticos e gestores de grandes empresas públicas e, secundariamente, contra o alto funcionalismo público que será justamente acusado de ter privilégios que mais ninguém tem.
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As empresas mais sacrificadas vão ser as multinacionais cujos produtos no país terão preços agora mais elevados, na minha opinião 25% a 30% mais elevados, e inicialmente talvez ainda mais. Estão neste caso, as empresas produtoras de automóveis, as cadeias de distribuição internacional como o IKEA, o Toys are Us, etc., os bancos internacionais que se desinteressarão de Portugal, etc.
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As empresas públicas portuguesas estarão também sujeitas a um downsizing considerável. Nuns casos, ele resultará da sua própria actividade (v.g., TAP), noutros será o resultado da enorme adversidade que se vai gerar no país contra o sector público, em particular contra os políticos e gestores de grandes empresas públicas e, secundariamente, contra o alto funcionalismo público que será justamente acusado de ter privilégios que mais ninguém tem.
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A uma semana da visita do Papa Bento XVI a Portugal ocorreram ontem no país três milagres e todos respeitam aos bancos.
Primeiro, todos os quatro maiores bancos portugueses reportaram os seus resultados no mesmo dia. Estranha coincidência.
Segundo, todos tiveram grandes lucros. Coincidência ainda maior.
Terceiro, a notícias fez a primeira página dos jornais e a abertura dos telejornais. Mais outra coincidência.
Eu acredito em milagres. Mas não em tantos ao mesmo tempo.
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Primeiro, todos os quatro maiores bancos portugueses reportaram os seus resultados no mesmo dia. Estranha coincidência.
Segundo, todos tiveram grandes lucros. Coincidência ainda maior.
Terceiro, a notícias fez a primeira página dos jornais e a abertura dos telejornais. Mais outra coincidência.
Eu acredito em milagres. Mas não em tantos ao mesmo tempo.
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à sua maneira
O personalismo católico, por oposição ao individualismo protestante, constitui, quer na teoria quer na prática, a maior diferença entre catolicismo e protestantismo.
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O individualismo foi uma consequência inevitável da Reforma religiosa. Os protestantes rejeitaram a autoridade da Igreja e, portanto, do clero. Cada um passou a ser padre de si próprio, deixou de haver diferença entre aqueles que sabem mais e possuem outras virtudes (os padres) e aqueles que sabem menos e não as possuem (os leigos). Todos passam a ser iguais.
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Os moralistas escoceses do século XVIII (Hume, Smith, Ferguson) teorizam largamente nesta base individualista, colocando o ênfase na natureza humana - aquilo que é igual nos homens - e desprezando a ideia católica de personalidade - aquilo que é diferente nos homens. É assim que sobrevalorizando aquilo que é igual face àquilo que é diferente que passa a ser possível teorizar sobre a sociedade em termos de processos de massa. Foi isso que fez Adam Smith, o fundador da Economia. A teorização do mercado como processo social não teria sido possível sem primeiro reduzir os homens a uma condição em que todos são essencialmente iguais.
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Esta diferença entre personalismo e individualismo tem tantas implicações e explica tanto a situação em que se encontram actualmente os PIGS que praticamente daria para escrever um livro. Analisarei aqui uma delas.
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Supunhamos uma empresa multinacional alemã (ou inglesa ou americana) com 20 mil trabalhadores e produzindo num certo sector. Será que uma empresa multinacional portuguesa, também com 20 mil trabalhadores, conseguiria fazer concorrência, em termos de produtividade, à empresa alemã? E, em caso negativo, qual seria a solução portuguesa para fazer concorrência à multinacional alemã?
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A resposta à primeira pergunta é obviamente negativa. Enquanto na empresa alemã, os procedimentos de produção e de comportamento dentro da empresa, definidos pela gestão, são rigorosamente cumpridos por todos e sem excepção, na empresa portuguesa cada trabalhador iria questionar cada um desses procedimentos e dizer que se devia fazer de outra maneira ("a sua maneira"), e não daquela.
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É impossível gerir uma empresa portuguesa com 20 mil trabalhadores, excepto se fôr pública, porque o Estado estará lá então para aparar as perdas. Pelo contrário, existem numerosas empresas privadas alemãs com 20 mil trabalhadores ou mais, como existem americanas, inglesas, etc.
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Significa isto então que os portugueses (ou gregos ou italianos ou espanhóis) nunca serão capazes de fazer concorrência a uma multinacional alemã de 20 mil trabalhadores?
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São, não através de uma empresa multinacional de 20 mil trabalhadores, mas através de 4 mil empresas familiares de 5 trabalhadores cada, porque aí cada português pode verdadeiramente fazer a coisa à sua maneira.
04/05/10
36 anos
Salazar governou o país durante 36 anos, o mesmo número de anos que tem o regime democrático saído do 25 de Abril. A comparação entre a performance económica do país nestes dois períodos de 36 anos é favorável de forma avassaladora ao primeiro, e Salazar teve pelo meio uma guerra mundial, uma guerra colonial em várias frentes e não teve ajudas externas.
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Se o regime salazarista tivesse tido a performance económica do regime democrático, Salazar, que governou Portugal desde 1932 até à sua morte em 1968, teria sido deposto muito antes de morrer. Ele só se manteve tanto tempo no poder porque o regime económico do Estado Novo era uma máquina impressionante de produzir riqueza. Nunca na época moderna, e talvez nunca na sua história, os portugueses prosperaram tanto em tão pouco tempo.
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Eu estou hoje convencido que a única forma racional de governação de uma comunidade humana (seja uma família, um país, ou outra) é aquela que tem no topo da governação um homem com poderes supremos e absolutos, à semelhança do que sucede com o Papa da Igreja Católica. Só assim é possível pedir responsabilidades a alguém pelo que está mal, e esse mesmo homem tem todos os poderes para corrigir a situação. Este é o segredo que permite à Igreja Católica viver há mais de dois mil anos.
o défice e o bento
Tem-se criado a ideia no país que a saída do euro seria uma grande desgraça, e essa ideia tem sido veiculada principalmente por políticos. Na realidade, seria uma enorme bonança porque é o euro que está a paralisar a economia portuguesa desda há mais de uma década. Neste post analiso os efeitos da introdução do bento sobre o défice do sector público.
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Portugal importa actualmento cerca de 40% do seu PIB e exporta 32%. A desvalorização do bento que se seguiria à sua introdução, e que eu estimo em cerca de 25%, teria um enorme impacto no PIB e no emprego. Nos dois a três anos subsequentes seriam de esperar taxas de crescimento da ordem dos 5% ao ano no país.
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O défice do Estado, que tem sido uma batalha perdida com o euro, iria baixar drasticamente (isto, evidentemente, supondo que os governantes não inventam novas despesas). Primeiro, aumentavam as receitas fiscais em resultado do crescimento do PIB e do emprego. Em segundo lugar, diminuiriam as despesas sociais (subsídios de desemprego, etc.) e seria também de esperar que alguns funcionários públicos fossem atraídos para empregos no sector privado, diminuindo a despesa com o funcionalismo.
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No espaço de dois anos, as contas públicas estariam equilibradas e em superavit ao final do terceiro, podendo o Estado começar a reembolsar a dívida pública que entretanto aproxima os 100% - um valor crítico a partir do qual os economistas consideram que é muito difícil a um país evitara bancarrota.
bento
Os mercados financeiros não acreditam - ninguém, no seu perfeito juizo, pode acreditar - que o pacote de ajuda à Grécia aprontado este fim-de-semana em Atenas, e pronto para aprovação na UE, resolva o problema grego a longo prazo. Por isso, os mercados desferiram hoje novo ataque aos PIGS, tendo a Espanha como alvo. Portugal foi atrás, e as bolsas ibéricas caíram mais de 5%.
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O abandono do Euro por parte dos PIGS é agora inevitável, embora não seja fácil prever o timing. O meu propósito neste post é descrever brevemente como se faz a saída do euro para uma nova moeda portuguesa, a que chamarei bento, e os seus efeitos imediatos.
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Num dia, geralmente de fim-de-semana, o governo manda congelar todos os depósitos em euros detidos nos bancos nacionais. O congelamento pode durar vários dias. Esses depósitos são então convertidos em bentos a uma certa taxa oficialmente definida, v.g., 1 euro = 1 bento, significando que os depositantes serão a partir de agora ressarcidos dos seus depósitos em bentos e não em euros. Na reabertura do feriado bancário deixa-se o mercado cambial funcionar e o bento desvaloriza, por exemplo, para 1 euro = 1.25 bentos.
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É nesta desvalorização do bento, que eu supus ser de 25% (e que deverá andar muita próxima do que será a realidade) que está a chave da recuperação da economia. Todos os produtos importados do estrangeiro passam a custar 25% mais caro, e os portugueses passarão a importar menos; ao mesmo tempo, os produtos portugueses no estrangeiro passam a ficar 25% mais baratos, e os portugueses passam a exportar mais. É este aumento da produção nacional para o mercado interno, substituindo as importações, e para o mercado externo, aumentando as exportações, que fará subir o emprego no país. Não há outra solução. (É também o facto de, sem saír do euro, o país não poder desvalorizar que torna as soluções alternativas ineficazes, como aquela que está a ser elaborada para a Grécia).
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Inicialmente, a inflação vai aumentar porque os produtos importados são agora mais caros, mas este fenómeno só dura até eles serem, em parte, substituídos por produção nacional. Devido ao aumento da inflação as taxas de juro vão também subir, mas este efeito tenderá também a ser temporário.
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É o Estado, através do Banco de Portugal, que fica com os euros confiscados aos cidadãos em troca dos bentos. São esses euros que servem de garantia à emissão dos bentos, mais o ouro e outros activos (v.g., d´lares) detidos pelo Banco de Portugal. Em princípio, o Estado poderá utilizar uma parte desses euros para liquidar uma parte da sua dívida externa, que está denominada em euros.
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As dívidas dos cidadãos (v.g., créditos hipotecários) e das empresas portuguesas aos bancos nacionais são também convertidas à taxa oficial 1 euro = 1 bento, embora as taxas de juro sobre as dívidas em bentos, como referido anteriormente, tendam a subir no futuro imediato face ao nível que teriam em euros. Em dificuldades maiores ficam as empresas privadas que tenham dívidas em euros perante o estrangeiro (são poucas em Portugal), pois as suas receitas passam a ser em bentos e têm de servir a dívida em euros, com o bento desvalorizado à taxa assumida de 1 euro =1.25 bentos (ou 1 bento = 0.80 euros).
Platão e Santo Agostinho
Neste post afirmei que o Papa Bento XVI considera o catolicismo uma doutrina eminentemente racional. É preciso, no entanto, notar o conceito que o Papa tem de razão (e de verdade).
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Para o Papa, a razão não se encontra apenas na mente, seguindo a linha filosófica que tem origem em Aristóteles, passa por S. Tomás e é levada ao extremo por Kant. Não. O Papa vai buscar a linha filosófica que tem origem em Platão e passa por Santo Agostinho, segundo a qual a razão reside tanto na mente como no coração.
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Por exemplo, um homem cometeu um crime hediondo e foi condenado a prisão perpétua. Toda a gente está contra ele, excepto, normalmente, a sua mãe, que o protege, o acarinha, e o defende da ira de todos. Para o observador independente esta é uma atitude profundamente irracional, a de defender assim um criminoso. Este é o veredicto da razão da mente.
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Analisando a atitude da mãe com maior cuidado, porém, a conclusão é a de que se trata de uma atitude profundamente racional (a razão do coração). Se aquele homem, depois de ter cometido um crime hediondo, não tiver quem o defenda, quem goste dele e o acarinhe, ele vai tornar-se uma fera, e cometer crimes ainda piores. Só o amor incondicional da mãe o pode travar de prosseguir nessa senda.
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Posto mais geralmente, uma sociedade onde as pessoas, depois de terem cometido todos os pecados, não tenham, ainda assim, alguém que goste delas, vai tornar-se uma sociedade extremamente violenta. São pessoas que não têm nada a perder. É por isso que o amor incondicional da mãe (ou de qualquer outra pessoa) é profundamente racional - trava a violência e favorece a vida.
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Percebe-se certamente que a razão da mente é essencialmente um atributo masculino e a razão do coração um atributo essencialmente feminino. Aquilo que a filosofia moderna fez foi deitar fora a razão do coração, e deixar apenas a razão da mente. Foi isso que Kant fez. Não surpreende que a sociedade moderna se tivesse tornado mais violenta. E as grandes manifestações modernas de violência ocorreram precisamente na pátria de Kant.
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Segue-se também que a filosofia moderna, ao deitar fora a razão do coração, acabou a desvalorizar as mulheres e a valorizar sobretudo os homens. É por isso que uma das características da modernidade é a de as mulheres quererem imitar os homens. É por isso também que as mulheres são desvalorizadas nos países protestantes (como a Alemanha), em relação à consideração que recebem nos países católicos (como Portugal, por enquanto).
03/05/10
relativismo cultural
"«Qual destas tradições é a melhor?» PA
Pois, talvez nenhuma delas seja melhor que a outra, uma vez que assentam em culturas diferentes; e as culturas não são melhores ou piores, são o que são e devem simplesmente ser respeitadas."
(Ricciardi, na caixa de comentários aqui)
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Na opinião do Papa Bento XVI, a questão formulada acima representa a questão mais importante da modernidade. É a questão do relativismo cultural. Devem duas ou mais culturas ser encaradas numa base de igualdade, uma valendo tanto como a outra, ou, pelo contrário, existe uma que é melhor que as outras?
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Na sua vastíssima obra teológica o Papa responde que a cultura católica é melhor que as outras, porque é a única perfeitamente racional e verdadeira, embora eu tenha de admitir que a sua justificação, porque se limita largamente à esfera teológica, me parece, às vezes, insuficiente.
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Eu próprio acredito hoje que a doutrina católica é melhor que as outras porque é a única perfeitamente racional e é isso precisamente que me seduziu nela. É preciso prová-lo, e já comecei a dar a minha contribuição nesse sentido (cf. aqui).
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Existem, na minha opinião, duas partes na explicação de a doutrina Católica ser superior às outras.
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A primeira é a de que a doutrina Católica é a única, pelo menos na modernidade Ocidental, que explicitamente se propõe maximizar a vida humana, ao ponto de ambicionar torná-la eterna (Cat.: Prólogo; 1). Parece-me não existir discussão possível acerca deste ponto, o de que a maximização da vida humana é o mais alto dos valores ou ideais, já que nenhum outro valor ou ideal faz sentido sem ela.
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A segunda parte respeita à racionalidade do Catolicismo e esta é mais problemática, já que muitas pessoas vêem o catolicismo como uma doutrina de fé, e não de razão. A verdade, porém, é que, à luz do objectivo de maximização da vida humana, tudo aquilo que o catolicismo afirma faz perfeito sentido racional (v.g., oposição ao aborto, ao casamento entre homossexuais, à eutanásia, aos métodos anti-concepcionais, o favorecimento do casamento e da família, etc.)
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Eu penso que a visão do catolicismo como doutrina racional é uma das principais contribuições do Papa Bento XVI à filosofia e à teologia moderna. O catolicismo, afirma o Papa, é uma doutrina eminentemente racional, e o próprio Deus católico é Logos, razão. A fé é apenas o último passo da razão, o limite da razão, o ponto a que se chega como último degrau da razão, a crença perfeitamente racional.
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Depois de ter respondido racionalmente a todas as questões sobre a realidade humana, quando finalmente se chega à última questão "Deus existe?", a única resposta racional é "Sim", não porque se possa invocar quaisquer sinais objectivos da existência de Deus, mas porque a resposta "Não" levaria a negar racionalmente toda a realidade, incluindo a nossa própria existência. A fé em Deus aparece assim como a única atitude da razão (a atitude contrária, negar a existência de Deus, seria irracional).
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Fica ainda a questão de saber porque é que a razão é tão importante para o Catolicismo. A resposta é que é a razão - e sobretudo ela - que favorece a vida humana. Num mundo governado inteiramente pela razão, todos os conflitos humanos se podem resolver pela palavra e pela razão (Logos), isto é, pacificamente. Sem a razão, vão-se resolver pela violência.
zé-ninguém
A imprensa internacional, sobretudo germânica e anglo-saxónica, está agora inundada de artigos que exibem a Grécia como um país de gente desonesta, batoteiros, evasores fiscais, mentirosos, preguiçosos, etc. O tom foi estabelecido pela Senhora Merkel a semana passada quando disse que, para os gregos serem elegíveis para a ajuda alemã, tinham de se tornar mais honestos (cf. aqui). É uma ofensa generalizada ao povo grego e que, em breve, será lançada sobre os portugueses também. Na realidade é uma visão que os povos de tradição protestante possuem sobre os países mediterrânicos de tradição católica (incluindo a ortodoxa Grécia).
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A acusação tem que ver principalmente com a tradição de fuga aos impostos nos países de tradição católica. Antes de comentar a acusação, gostaria de lembrar que a Suíça, esse lendário paraíso fiscal, foi sempre, em primeiro lugar, uma conveniência germânica para fugir aos impostos; e que o Luxemburgo, dentro da UE, não é senão a mesma coisa. No mundo anglo-saxónico, as offshores, como as Ilhas Cayman e muitas outras, são ainda a mesma coisa. Quer dizer, fuga aos impostos institucionalizada e em grande escala é uma tradição protestante. Porém, quem tem a fama de fugir aos impostos são os povos de tradição católica. Esta pecha de os protestantes apontarem o dedo aos católicos por todos os pecados, quando eles de facto são bem piores, existe desde a Reforma religiosa, e os católicos nunca se sabem defender, ou não estão para isso, ou até têm prazer nisso. Como escrevia hoje um articulista americano acerca da Grécia, não é preciso dizer mal dos gregos, porque eles próprios dizem mal uns dos outros.
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É claro que os povos de tradição católica ou ortodoxa, como os portugueses, os italianos, os espanhóis, os gregos ou os brasileiros fogem aos impostos. Mas a sua fuga aos impostos não é em larga escala e muito menos institucionalizada, como no mundo protestante. É, na realidade, uma petty tax evasion, uma fuga fiscal de meninos, pequena, sem importância, e nada que se compare com aquela que se pratica institucionalmente nos países protestantes.
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É sobre esta pequena fuga fiscal que pretendo concentrar-me, e que dá lugar à grande economia informal que é típica dos países católicos. Ela ocorre caracteristicamente quando eu tenho de pagar ao meu amigo Francisco que dá explicações de Matemática ao meu filho. O Francisco, naturalmente, foi-me recomendado por um amigo comum. Passado um tempo, eu próprio me tornei amigo do Francisco, os nossos filhos também são amigos, para não falar nas nossas mulheres que já vão as duas à mesma modista. Quando chega a altura de lhe pagar as explicações, no valor de 100 euros, eu não exijo factura. Ao fazê-lo, eu acabo de ser conivente numa evasão fiscal por parte do Francisco. Como o Francisco é tributado em IRS à taxa de 30%, ele acaba de lesar o Fisco em 30 euros com a minha ajuda. Na realidade, nem ele nem eu nos consideramos pessoas desonestas por termos procedido assim. Mas a Senhora Merkel teria uma opinião muito diferente.
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A que se deve a diferença de opinião? A uma questão cultural, à diferente ponderação que a tradição católica, por oposição à tradição protestante, atribui à relação homem/comunidade. Como expliquei noutro lugar, a tradição protestante, na sua versão germânica (e socialista) valoriza a comunidade mais do que o homem. Pelo contrário, a tradição católica, dando embora grande importância à comunidade, acaba por colocar o homem acima dela.
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Voltando ao exemplo anterior, o homem de tradição católica raciocina assim. Ao poupar 30 euros em impostos ao Francisco, eu conferi um benefício a uma pessoa concreta, o meu amigo Francisco que está sempre pronto a dar uma ajuda aos meus filhos quando eles estão em dificuldades. Se, pelo contrário, eu tivesse exigido recibo, a comunidade receberia os 30 euros, através da administração fiscal. Porem, supondo a existência de 10 milhões de cidadãos, cada um deles iria beneficiar 0.0003 cêntimos desses 30 euros. Ora, 0.0003 cêntimos não é benefício nenhum. A atitude racional entre beneficiar o meu amigo Francisco em 30 euros, e não beneficiar ninguém (mais exactamente: beneficiar cada cidadão em 0.0003 cêntimos) é beneficiar o meu amigo Francisco, isto é, não lhe exigir recibo.
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Visto de outro ângulo, trata-se de mais uma manifestação do personalismo católico por oposição ao individualismo igualitarista protestante. Num caso, não exigindo recibo, eu favoreço uma pessoa concreta, o meu amigo Francisco, em 30 euros; noutro caso, exigindo recibo, eu favoreço uma massa anónima de pessoas que não conheço em 30 euros. Entre o Francisco e uma massa anónima de pessoas - a sociedade ou a comunidade -, um homem de tradição católica, que põe cada homem acima da sociedade, opta por favorecer o Francisco. Pelo contrário, a tradição protestante germânica, que pôe a sociedade acima do homem, opta por favorecer a sociedade.
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Qual destas tradições é a melhor? Eu deixo a resposta ao leitor, sob a forma de uma pergunta: Você prefere viver numa sociedade onde é considerado alguém suficientemente importante para ser valorizado de maneira que é mesmo superior à da sociedade; ou pelo contrário, prefere viver numa outra sociedade onde você é considerado um zé-ninguém? (Não esqueça que, precisamente, por na tradição protestante alemã, as pessoas serem consideradas zé-ninguens é que os alemães já mostraram serem capazes de matar pessoas em massa. Na realidade, que falta faz cá um zé-ninguém ou um milhão deles? Fazem-se outros rapidamente para os substituír.)
02/05/10
estragada
O que é que torna os países de tradição católica (ou ortodoxa, como a Grécia) ingovernáveis em democracia? A resposta é: o personalismo católico, em oposição ao individualismo protestante. Na tradição católica, cada homem é uma pessoa, um ser humano dotado de características únicas e irrepetíveis - a sua personalidade. Na tradição protestante, cada homem é um mero indíviduo, um ser humano essencialmente igual a todos os outros. É a tradição protestante que faz dos homens essencialmente "carneiros".
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Se os homens são essencialmente iguais uns aos outros, como proclama a tradição protestante, então não há razão para que a decisão democrática sirva a uns, e não a outros. Ela serve igualmente a todos, não há excepções, e todos têm de se submeter igualmente a ela sem excepção. Reside aqui a famosa disciplina por que são conhecidos os povos de tradição protestante, como os alemães. Uma vez tomada uma decisão democrática, todos se submetem, sem excepção.
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Pelo contrário, na tradição católica cada homem é uma excepção. A decisão democrática é para ser aplicada aos outros, não a ele, porque ele não é igual aos outros, é uma excepção. E, como todos pensam assim, não há maneira de alguém ter respeito pelas decisões democráticas (mau grado as grandiosas proclamações em contrário). A democracia deixa de ser um processo ao qual todos se submetem, para passar a ser um processo que cada qual procura alterar para se adaptar à sua personalidade, aos seus gostos e interesses. No fim, cada um, se puder, acaba a servir-se da democracia porque a democracia está ali para o servir a ele, e não ele à democracia.
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Passado um tempo, é inevitável que a democracia fique toda estragada. Neste artigo do NYT, o presidente do sindicato dos médicos do sector público da Grécia defende que os médicos devem continuar a ter um estatuto de excepção no que respeita ao IRS, declarando rendimentos anuais de 12 a 15 mil euros por ano, ao mesmo tempo que vivem em bairros de luxo. Tendo-lhe sido perguntado como é que com 12 a 15 mil euros por ano é possível aos médicos viverem em apartamentos de luxo, ele respondeu que os médicos devem ter recebido ajuda dos pais para comprar esses apartamentos.
a figura
Não são ainda conhecidas em detalhe as medidas de austeridade aprovadas entre o governo grego e os representantes da UE e do FMI como condição para o empréstimo de 100 biliões de euros a conceder ao país. Aquilo que já se pressente é que será uma grande humilhação para a Grécia ter o seu país a ser governado por alemães e americanos.
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Nos seus grandes princípios, as medidas incluem o aumento da idade da reforma de 53 para 67 anos (que é a idade da reforma na Alemanha); a abolição do 13º e 14º meses de salário na função pública (na Alemanha não existe tal coisa); o congelamento dos salários por três anos na função pública; o aumento do IVA em 2 a 4 pontos percentuais; o aumento dos impostos nos combustíveis, tabaco e alcoól; e um grande "crackdown" a todos aqueles suspeitos de evasão fical, que são muitos na Grécia.
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Sondagens recentes indicam que 67% da população é contra as medidas de austeridade e mais de 50% dos gregos declaram-se dispostos a vir para a rua protestar contra as medidas. Como se pôde chegar a esta situação, que é semelhante à portuguesa, só diferindo um pouco no grau de gravidade? Antes de mais é bom lembrar que todos os PIGS possuem democracias recentes, a Grécia e Portugal a partir de 1974, a Espanha a partir de 1975, a Itália a partir da Segunda Guerra, mas com toda a instabilidade conhecida que lhe dá, em média, um governo por ano ao longo dos últimos 50 anos.
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Aquilo que falhou foi a democracia. Os países de tradição católica (ortodoxa Grécia incluída) não possuem tradição democrática e mais uma vez demonstraram não a possuir: desgovernam-se me democracia, como já várias vezes aconteceu no passado. O seu regime natural de governação possui, no topo da hierarquia, um homem - que designarei como chefe de Estado - dotado de poderes supremos e absolutos, e que não responde perante a população.
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Esse homem é a cara exterior do país e a imagem da sua credibilidade. É ele que dá a cara pelo país e que decide depois internamente aquilo que tem de ser feito, isto é, é ele que governa. A governação é inteiramente da sua responsabilidade e uma má governação é-lhe imputada directamente a ele. Numa palavra, é a figura do Papa da Igreja Católica.
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Quando os países de tradição católica são governados de acordo com este modelo, eles são capazes de criar economias extraordinariamente prósperas, e não há democracias que lhes ganhem, como sucedeu com o Portugal de Salazar e a Espanha de Franco. Entre 1926 e 1974, o país que mais cresceu na Europa Ocidental (entre os 12 países que eram nossos parceiros na UE quando aderimos em 1974) foi Portugal (veja aqui). A Espanha tem um registo semelhante desde que Franco chegou ao poder até o abandonar em 1975. A base de dados que utilizei é absolutamente imparcial (na realidade, é até protestante) e está aqui.
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É em direcção a este modelo de governação que os PIGS vão ter de caminhar se querem recuperar a prosperidade económica e a reputação internacional. As medidas de austeridade agora impostas à Grécia não vão resultar, se é que serão impostas de todo (cf. aqui).
01/05/10
na rua
As palavras de Wolfgang Nowak ao Daily Telegraph, que reproduzo abaixo, não deixam dúvidas acerca das condições alemãs para ajudar a Grécia (e mais tarde Portugal e a Espanha também). Trata-se de forçar uma mudança cultural, daquilo que eu tenho chamado a cultura católica para a cultura protestante.
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Os PIGS têm andado a viver com instituições que não são suas, como pessoas que andam vestidas com fatos que não foram feitos à sua medida. Como tenho insistido, a combinação do liberalismo com a social-democracia, em que consiste a democracia liberal moderna, é a combinação de duas doutrinas protestantes, totalmente alheias à cultura católica e que inevitavelmente só poderiam dar mau resultado. De resto, não é a primeira vez que a democracia-liberal falha nestes países. (Em Portugal, a última vez foi em 1926)
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A opção agora é clara. Ou os PIGS se submetem à cultura protestante para receber o dinheiro alemão e do FMI, permanecendo no Euro, ou rejeitam as imposições, defendendo a sua cultura, mas tendo de saír do Euro. Em conversa recente com o Joaquim do Portugal Contemporâneo, ele pensa que é a primeira opção que vai vencer. Eu penso que é a segunda. E tudo se vai decidir na rua, como já começa a decidir-se na Grécia.
imposing
According to Wolfgang Nowak, chief economic advisor to Gerhard Schroeder, the German chancellor who himself implemented painful economic and welfare reforms at the beginning of this century, Germans will demand that Greece shapes up.
"Germans just don't like to pay for people to retire early, to claim several holiday bonuses," he said. "We hear that Greeks are not ready to accept change in these things and are blaming Germany, but the reality is that Germany is already having to adapt to keep up with the economies of Brazil, Russia, India and China. Greece must adapt too."
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Such is the disillusionment within Germany about what is perceived as a Mediterranean work ethic in direct contrast to the discipline at home that a cultural chasm has opened up between northern and southern Europe. The EU must take the opportunity to bridge that chasm by imposing a fresh, northern-European rigour on Portugal, Italy, Greece and Spain (the so-called PIGS), said Mr Nowak.
"It's cultural," he said. "These [southern European] states must adapt. If we help Greece we must help Portugal and Spain too. It's a chain reaction". (aqui)
processos impessoais
Este artigo citado pelo Joaquim a partir do Times é muito significativo do pensamento moderno. Ele pressupõe que há basicamente dois modelos sociais no Ocidente, o modelo liberal de inspiração anglo-saxónica, e o outro que o autor designa por modelo Europeu, que é o modelo social-democrata de inspiração germânica.
O modelo liberal entra em ruptura pela falência de grandes empresas privadas, como a Lehman Brothers; o modelo social-democrata entra em ruptura pela falência dos Estados nacionais, como agora está a suceder na Grécia. Num caso falha o mercado, noutro falha a democracia. Em ambos os casos falham processos impessoais.
Um ponto significativo do artigo é que o autor parte do princípio de que, para além das doutrinas do liberalismo e da social-democracia - ambas de inspiração protestante -, não existe mais pensamento na Civilização Ocidental. A verdade é que existe, embora não esteja suficientemente desenvolvido e divulgado. Refiro-me naturalmente à Doutrina Social da Igreja. E uma das diferenças cruciais entre o pensamento social católico, e o pensamento social protestante, tal como expresso quer na doutrina liberal quer na doutrina socialista, é a sua rejeição dos processos impessoais, e o seu ênfase no chamado personalismo católico.
Num processo impessoal, como o mercado ou a democracia, todos participam nele mas ninguém é responsável pelos seus resultados. Uma das consequências é que ninguém é capaz de travar este processo mesmo quando todos vêem que ele se encaminha para o desastre. Neste aspecto, não vale a pena sequer perguntar qual é pior, se o mercado ou a democracia. São iguais. Ninguém os consegue parar. Só param quando há desastre. Daí a importância de manter estes processos - o mercado e a democracia - dentro de esferas que salvaguardem a pessoalidade, as quais são necessariamente as esferas das pequenas comunidades.
Enquanto os processos sociais se mantêm dentro de esferas pessoalizadas é possível chamar à razão os seus participantes quando eles se encaminham para produzir resultados que são danosos para a comunidade. Porém, quando eles se tornam processos impessoais e de massa, não é possível falar com ninguém, e não é possível corrigir-lhes os erros. O apelo à razão deixa de funcionar, os processos tornam-se a-racionais, e não existe mais garantia de que eles estejam ao serviço das pessoas, e não as pessoas ao serviço deles.
É função da autoridade política proteger as pessoas dos resultados indesejáveis de processos sociais impessoais, impondo-lhes limites e restricções. Mas esta função só pode ser desempenhada eficazmente se a autoridade política não fôr o resultado, ela mesma, de um processo impessoal. Quem levou as finanças públicas da Grécia ao estado em que se encontram? O actual primeiro-ministro, o anterior, aquele que serviu antes dele ou ainda o precedente? Foram todos e nenhum em particular. Não há maneira de pedir responsabilidades a ninguém, tanto mais que cada um deles actuou em nome do povo.
Quanto a Portugal, que está na segunda posição em relação à Grécia, e mesmo perante o exemplo grego, alguém pode razoavelmente esperar que o governo inverta o curso das suas políticas por forma a evitar uma bancarrota semelhante à da Grécia? Claro que não. No fundo, a actual situação das finanças públicas portuguesas não é da responsabilidade deste governo senão numa pequena medida; todos os anteriores contribuiram para ela. Não há maneira de parar este combóio. Excepto quando ele bater na parede.
a maçã
A julgar pelas notícias públicas, dir-se-ia que a situação económica nos PIGS é má e a dos não-PIGS é boa ou pelo menos razoável. A verdade é um pouco diferente. Nem a situação dos PIGS é tão má quanto parece nem a dos não-PIGS é tão boa quanto parece.
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Os países católicos (aqui identificados, grosso modo, com os PIGS) dão sempre uma imagem pública pior do que aquilo que na realidade são, ao passo que os países protestantes (aqui identificados grosso modo com os não-PIGS) dão sempre uma imagem pública melhor do que aquilo que na realidade são. Vale a pena uma pequena analogia. A maçã portuguesa é tipicamente pequena, a côr não é homogénea, possui às vezes a casca enrugada. Mas é doce. A maçã importada da Nova Zelândia é grande, de um vermelho homogéneo, a casca é lustrosa. Mas não sabe a nada.
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A razão é que a cultura católica é a única onde as pessoas, através do sacramento da confissão, são levadas a admitir os seus pecados perante terceiros. Na cultura protestante não existe tal coisa como o sacramento da confissão. Ao exteriorizar os seus pecados, os povos de cultura católica dão a impressão de serem mais pecadores do que os outros. Mas não são. Os outros são tão pecadores ou mais do que eles, só que não exteriorizam os seus pecados. Para quem goste de enumerar os pecados humanos, o melhor que tem a fazer é dirigir-se a um país católico, porque eles estão todos à superfície, na realidade, estão todos nos jornais.
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Ao contrário daquilo que geralmente se crê, a cultura católica é, por isso, muito mais transparente do que a cultura protestante. Ela exterioriza facilmente os seus males e todos os seus pecados, ao passo que a cultura protestante esconde uns e outros. Recentemente um jornalista inglês que foi trabalhar para Itália admitiu que nos primeiros meses não gostou de viver no país. Mas depois de lá passar alguns meses, apercebeu-se da beleza do país e da sua cultura. Concluíu ele que aquilo que é bom em Itália não está à superficie.
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Claro que não. Aquilo que está à superfície é sobretudo aquilo que é mau. Para conhecer aquilo que é bom em Itália é necessário penetrar na cultura italiana, que é bem capaz de ser uma das melhores do mundo, senão mesmo a melhor. Pelo contrário, num país protestante, como a Inglaterra, o que é bom está à superfície, mas quando se penetra profundamente nessa cultura encontram-se muitas coisas más. A cultura católica é um mistério onde, se se persistir, se sai quase de certeza maravilhado. Pelo contrário, a cultura protestante é uma ilusão de onde se sai quase sempre decepcionado.
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Existem também razões filosóficas para esta diferença, de que não tratarei aqui. O ponto importante que quero salientar é este. Nunca se pode julgar um país de cultura católica superficialmente e por aquilo que vem a público, porque aquilo que vem nos jornais dá uma imagem distorcida do país, muito pior do que aquilo que o país, na realidade, é. O contrário vale para um país de tradição protestante.
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Por exemplo, a situação do défice orçamental e da dívida pública dos PIGS tem sido considerada calamitosa por que é medida em percentagem do PIB, que é o indicador público do tamanho da economia. Mas, como seria de esperar, o PIB dá uma imagem distorcida, e para pior, do tamanho da economia dos PIGS, significando que o défice e a dívida pública destes países não representam uma situação tão grave como superficialmente, e com base nos dados que são públicos, se faz crer. A razão é que existe nos PIGS uma enorme economia informal que não faz parte do PIB (ver aqui e aqui).
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Pelo contrário, os países protestantes são os inventores e os campeões do marketing. Esta palavra reflecte tão genuinamente a cultura do protestantismo britânico que não existe sequer correspondente para ela nos países de tradição católica. O marketing visa, em primeiro lugar, fazer com que a aparência seja melhor que a realidade. E esta é uma das imagens de marca da cultura protestante.
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