26/03/10

A condição das mulheres (xxiii)

No país socialista as mulheres são tanto quanto possível iguais aos homens. Este é, portanto, o país onde os homens menos precisam das mulheres. Portanto é o país que pior trata as mulheres. A beleza e a sensualidade femininas não são valorizadas. Este é o país onde ninguém precisa de ninguém e todos precisam do Estado. O sexo acaba sendo a única razão para os homens precisarem das mulheres, e mesmo aí a necessidade é moderada porque este país não valoriza a heterossexualidade. Não existe diferença entre os papeis do homem e da mulher na sociedade. Na vida profissional, as mulheres ascendem normalmente às mesmas posições dos homens, normalmente através de empregos no Estado, onde as promoções são feitas por antiguidade ou legisladas por quotas. Não sendo a família favorecida neste país, as mulheres tendem a educar sozinhas os filhos que resultam sobretudo de relações ocasionais. A filosofia de educação prevalecente é baseada na igualdade, segundo a qual a mãe (e o pai, quando está presente), trata os filhos como se fossem seus iguais.

No país liberal a diferença é apreciada e as mulheres tendem a distinguir-se claramente dos homens nas suas expressões exteriores e interiores. As mulheres são vistas pelos homens como parceiras de negócios, e a sua relação é uma troca permanente. A beleza e a sensualidade femininas são valorizadas por vezes ao exagero e como estratégias comerciais. Este é o país por excelência dos cosméticos, das curas de emagrecimento, das operações plásticas e das mulheres que pretendem ser eternamente jovens. Uma mulher de idade dificilmente se vende e, não se vendendo, não tem quem cuide ela. Neste país, a vida profissional é feita em concorrência. Este é o país que mais claramente diferencia as profissões naturalmente destinadas aos homens daquelas que estão naturalmente adaptadas às mulheres. As relações de família existem embora o divórcio seja frequente. A mãe educa os filhos segundo a filosofia de troca prevalecente na sociedade ("Deixo-te fazer isto se tu fizeres aquilo") e de modo a torná-los independentes o mais rapidamente possível.

O país católico valoriza a diferença e a complementaridade. É o país onde os homens mais precisam das mulheres e onde mais as apreciam. A beleza e a sensualidade femininas são valorizadas, desde que não sejam artificiais, dando a sensação que a mulher se vende no mercado. Existe uma grande diferença entre os papeis do homem e da mulher na sociedade, que se exibe logo na família, a mais importante instituição do país católico. A mulher ganha estatuto pela maternidade, a qual ocorre normalmente dentro do casamento. Existe uma certa distinção entre profissões feminina e profissões masculina, embora a maior parte delas sejam desempenhadas por homens e mulheres. oA mulher é o centro da família, assegurando a sua unidade e o seu equilíbrio. É ela que governa a família e a educação dos filhos pertence-lhe, em primeiro lugar, a ela. Esta função confere-lhe um ascendente permanente sobre os homens, cuja autoridade mais próxima eles vêem sempre como sendo uma figura feminina - a da mãe. A figura da "patroa" é uma figura distintamente católica.

24/03/10

A Administração Regional do Estado (xxii)

O país socialista é centralizador e não admite qualquer forma de regionalização do poder político. A regionalização introduz diferenças na provisão dos bens e dos serviços públicos, e as diferenças são o exacto oposto daquilo que o socialismo visa realizar - a igualdade. No país socialista puro existe a Administração Central do Estado e nenhuma forma de administração regional ou local. As regiões do país e as localidades são servidas por extensões da burocracia do Estado Central. O poder local e regional não é valorizado

O país liberal é o reino da descentralização regional e local. Este é o país dos individualistas onde, no limite, cada um ambicionaria ter um Estado só para si e feito à sua medida. Tal não sendo possível, as pessoas são levadas a associar-se por interesses locais e regionais comuns e a estabelecer comunidades políticas locais e regionais, cujos governos retiram ao governo central às vezes competências muito amplas. Este é o país que leva o poder local e regional ao máximo, às vezes comprometendo a própria unidade nacional.

O país católico oferece uma solução de compromisso entre as duas soluções anteriores, nem a centralização absoluta do socialismo, nem a descentralização extrema do liberalismo. As comunidades locais são valorizadas e alguma autonomia é devida, mas somente até ao ponto em que não ponha em causa a unidade da comunidade de ordem imediatamente superior - a comunidade regional. Pela mesma razão a comunidade regional é valorizada, desde que não ponha em risco a unidade da comunidade nacional. Este país valoriza o poder local e regional com a condição de não porem em risco ou constituirem uma ameaça ao poder central.

23/03/10

A Organização Industrial (xxi)

No país socialista, a organização industrial é definida pelo Estado. Os sectores de actividade que possuem relevância política são dominados pelo Estado, directamente ou através de empresas públicas. A forma de organização industrial dominante é o monopólio do Estado. Existem oligopólios, onde normalmente pontifica uma empresa pública, com participação de empresas privadas. O cartel controlado politicamente é frequente. Todos os sectores de actividade tendem a ser regulamentados pelo Estado. A empresa privada possui um carácter subsidiário e o sector concorrencial é residual e prevalecente nas indústrias sem relevância política.

No país liberal, a organização industrial é definida inteiramente pelas forças do mercado. Prevalece a empresa privada. O país liberal oferece todo o espectro de paradigmas de organização industrial definidos pelos economistas, desde a concorrência perfeita, num extremo, até ao monopólio, no outro, e passando pela concorrência monopolística e o oligopólio. A existência de economias de escala e de escopo, barreiras à entrada na indústria, etc., define o carácter mais ou menos monopolístico de cada sector de actividade económica. Os monopólios naturais são frequentes, e assim também os oligopólios que frequentemente degeneram em carteis, fazendo do país liberal o país por excelência das grandes empresas privadas.

No país católico a organização industrial é definida em primeiro lugar pelo mercado local e subsidiariamente pelo Estado. O país liberal é o reino da pequena empresa privada, assumindo a forma de empresa-familiar, e aquele que mehor aproxima o modelo de concorrência dos economistas. O crescimento das empresas está limitado pela perda do controlo familiar. Por isso, as grandes empresas do país católico tendem a possuír uma dimensão moderada. O Estado ocupa os sectores de actividade não servidos pela economia privada, primeiro a nível local e depois regional e nacional. Ao Estado também compete regulamentar a actividade privada, evitando os excessos da concorrência e da concentração.

22/03/10

A Religião (xx)

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O país socialista é anti-religioso. Na sua pretensão de tornar os homens todos iguais só lhe interessam os factos que revelam a igualdade ou a diferença, e por isso o socialismo é materialista, desprezando a vida espiritual do homem que se manifesta através da religião. Deus é um obstáculo à realização socialista da igualdade porque é Ele a fonte de todas as diferenças humanas. O socialismo sabe que utilizando o poder coercivo do Estado é possível tornar todos os homens iguais por fora, mas para os tornar iguais por dentro é preciso acabar com Deus. Por isso, o socialismo é o reino dos ateus. Dentre todas as correntes do cristianismo o socialismo ressente principalmente o catolicismo, por ser a mais personalista.O país liberal oferece o mais amplo espectro religioso que vai desde o ateísmo até ao mais fanático teísmo, passando pelo agnosticismo. Existem religiões para todas as variedades e para todos os gostos, como é próprio de um país comercial que oferece uma vasta gama de produtos acessível a todas as bolsas e para todas as preferências. A religião é um produto de consumo individual que cada um é livre ou não de consumir, segundo as suas preferências. Em consequência, a religião é um assunto da esfera privada de cada um e as manifestações religiosas possuem um carácter privado e discreto. No país liberal, existem grandes religiões, pequenas religiões e até religiões individuais, uma espécie de produtos feitos à medida do consumidor. Embora o país liberal aceite todas as religiões, em termos cristãos, ele é o reino do protestantismo, da religião feita à medida das preferências do consumidor.O país católico valoriza fortemente a religião. Existe uma única e verdadeira religião, embora outras religiões, bem como o ateísmo e o agnosticismo, sejam toleradas, não porque se acredite nelas, mas pela esperança de as catequizar, desta forma garantindo a liberdade religiosa. A religião católica fornece o código moral da sociedade, as regras do jogo essenciais que permitem aos homens viver em sociedade de forma pacífica e próspera. Por isso, a religião é um assunto público e as manifestações de religiosidade no país católico tendem a ser públicas. A Igreja convive com o Estado numa relação de independência e igualdade, zelando para que o poder político não cometa abusos nem excessos sobre as pessoas. Neste país, a Igreja é a garantia da liberdade política e da liberdade individual. O país católico é personalista, aí se encontrando a mais ampla variedade de personalidades humanas.

O Sentido da Justiça (xix)

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No país socialista, justiça é igualdade. O sistema público de justiça, como as outras instituições do Estado, é utilizado para realizar o ideal igualitário da sociedade socialista. As decisões dos tribunais tendem a favorecer a parte mais carenciada, tirando ao rico para dar ao pobre, enfraquecendo o poderoso para fortalecer o fraco, penalizando a diferença para promover a igualdade. O atributo principal da justiça é a compaixão. Este é um atributo sobretudo feminino. Por isso, a profissão de juiz no país socialista tende a ser desempenhada predominantemente por mulheres. No país liberal, justiça é equidade (fairness). Neste país onde prevalece a lógica do contrato e do negócio, a administração da justiça tende a ser vista à mesma luz, como uma repartição equitativa dos benefícios e dos custos. Quem lucrou com um acto ilícito precisa de ser penalizado, quem foi prejudicado precisa de ser ressarcido. A característica principal da justiça do país liberal é a imparcialidade. Este é um atributo sobretudo masculino. Por isso, a profissão de juiz tende a ser desempenhada por homens. No país católico, justiça é retribuição. Neste país onde prevalece um equilíbrio entre a pessoa humana e a comunidade, o acto ilícito é visto como uma ofensa ao homem e à comunidade, e uma ofensa precisa ser castigada ou retribuída. A principal característica da justiça no país católico é o equilíbrio ou moderação. A capacidade para castigar é uma atributo sobretudo masculino, que deriva da superioridade física do homem. Por isso, os juizes do país católico tendem a ser sobretudo homens. A função moderadora é uma característica feminina, pelo que esta função de mediador da justiça - ou advogado de defesa - tende a ser desempenhada eficazmente por mulheres.

21/03/10

A Prostituição (xviii)

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No país socialista ninguém precisa de ninguém e todos precisam do Estado. A única necessidade que fica por satisfazer, e que o Estado não pode satisfazer, é a necessidade sexual. A relação entre o homem e a mulher tem um conteúdo puramente sexual, e só este. As relações de longa duração, como o casamento, são desincentivadas, deixando homens e mulheres permanentemente disponíveis para a ligação sexual, a qual tende a revestir um carácter fortuito e ocasional. Não existe prostituição no país socialista porque qualquer mulher na sociedade está disponível para desempenhar a mesma função gratuitamente. Todas as mulheres são iguais.No país liberal a prostituição é um negócio como qualquer outro e uma manifestação da liberdade contratual entre as partes. Este é o país que maximiza a prostituição e que mais facilmente a institucionaliza. Existe prostituição feminina e masculina. A figura do giggolo é uma figura típica do país liberal. O negócio da prostituição pode tornar-se um negócio multinacional e de exportação. As condições do negócio obedecem às leis do mercado. O frágil sentido de comunidade do país liberal não apenas encoraja o divórcio e as relações livres como confere um alto grau de mobilidade à sua população. A prostituição é vista como um arranjo espontâneo da sociedade para responder à procura de serviços sexuais que daqui resulta.No país católico, a sexualidade fora do casamento é fortemente reprimida. A prostituição existe e é vista como um amortecedor e uma defesa social contra a agressividade dos instintos sexuais não enquadrados pelo casamento, especialmente os masculinos, como os dos homens solteiros e os dos trabalhadores imigrantes. Por isso, a prostituição no país católico é sobretudo feminina. A prostituição é tolerada como uma espécie de mal menor, assumindo predominantemente um carácter informal e discreto, que todos sabem que existe mas ninguém parece querer ver e menos ainda falar. A comunidade lida com a prostituição fazendo uma espécie de vista grossa.

A Pedofilia (xvii)

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No país socialista os filhos tendem a ser o produto de relações fortuitas e fora do casamento, frequentemente educadas por um só dos progenitores e fora de todo o enquadramento institucional que não seja provido pelo Estado. O Estado é o principal protector das crianças, mas um protector necessariamente distante. Em consequência, este é o país por excelência das crianças desprotegidas. A ideia de igualdade em que se funda o país socialista encoraja as relações homossexuais, e o homossexual torna-se o sex symbol da sociedade. O casamento e as relações sexuais estáveis e permanentes são desencorajados, deixando os instintos sexuais à solta na sociedade. Esta combinação - crianças desprotegidas e instintos sexuais livres de qualquer impedimento - tornam o país socialista o reino da pedofilia. Os casos de pedofilia são tratados pelo sistema público de justiça e as penas tendem a envolver prisão.No país liberal os filhos tendem a ser o produto de relações dentro do casamento. As crianças tendem a ser educadas e protegidas pela família nuclear, a qual é a principal instituição de protecção das crianças, seguindo-se a grande distância a escola. O fraco sentido comunitário do país liberal torna a família uma instituição frágil, pronta a desfazer-se logo que cesse o interesse de um dos esposos. O risco de divórcio é elevado, expondo as crianças a riscos que um só dos progenitores não pode controlar, e que nenhuma outra comunidade é suficientemente forte para proteger. Os instintos sexuais são geralmente contidos dentro do casamento, mas somente enquanto ele durar. O país liberal valoriza a diferença e não aprecia a sexualidade. Em consequência, a pedofilia é consideravelmente menos frequente do que na situação anterior. Os casos de pedofilia são tratados pelo sistema público de justiça e as penas tendem mais para a indemnização pecuniária aos ofendidos, ou suas famílias, do que para a prisão.No país católico, a família é a principal instituição da sociedade. As crianças tendem a nascer dentro do casamento e a ser protegidas pela família, incluindo a família alargada. Este é o país que maximiza a protecção das crianças. O país católico valoriza fortemente a heterossexualidade, e condena a homossexualidade. Os impulsos sexuais tendem a ser contidos dentro do casamento, que é uma instituição permanente. Os pedófilos potenciais tendem a ser desencorajados pela ameaça de retaliação física por parte dos familiares da criança. Em consequência, este é o país que minimiza a pedofilia. Os casos de pedofilia no país católico tendem a ser resolvidos em privado, protegendo a criança ofendida dos efeitos negativos da publicidade e dos traumas resultantes da sua participação em processos judiciais contra adultos.

20/03/10

A Família (xvi)

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O país socialista vê na nação a principal comunidade e no Estado a principal instituição. As pessoas são seguras de todos os riscos e necessidades da vida através de programas do Estado, os quais visam igualizar a condição material de todos os cidadãos - educação e saúde gratuitas, subsídios de desemprego e de pobreza, etc. O Estado cuida de cada um desde o berço até ao caixão. Neste país, ninguém precisa de ninguém e todos precisam do Estado. Por isso, a família torna-se uma instituição dispensável. O casamento é desencorajado e as relações entre homem e mulher tendem a ser fortuitas e ocasionais, no strings attached. Neste país as crianças tendem a nascer fora do casamento e a serem educadas apenas por um dos progenitores, normalmente a mãe, sem a presença do pai, menos ainda de uma família alargada.
O país liberal vê o casamento como um contrato como qualquer outro destinado a promover o interesse-próprio dos participantes. O casamento mantém-se enquanto durar o interesse das duas partes e desfaz-se logo que uma das partes deixe de ver nele benefício próprio. O país liberal é, por excelência, o país dos divórcios. Embora as crianças tendam a nascer dentro do casamento, existe uma forte probabilidade de acabarem como filhas de pais divorciados. O sentido individualista do país liberal não favorece a família alargada, pelo que o mais provável é que as crianças acabem a ser educadas por um só progenitor, normalmente a mãe, sem qualquer rede comunitária de protecção.
O país católico vê o casamento como uma aliança para a vida entre um homem e uma mulher, mediante a qual os esposos se comprometem a proteger-se mutuamente, e aos descendentes que resultarem dessa união. O casamento é ele próprio simbolizado por uma aliança. Este país encoraja o casamento e desencoraja o divórcio. A família é a principal comunidade do país católico, e a sua mais importante instituição. A principal função da família é uma função de protecção. As crianças tendem a nascer dentro do casamento, a serem educadas pelo pai e a mãe dentro da família nuclear, e a serem enquadradas numa ideia de família alargada (avós, tios, padrinhos, primos, etc.) que contribui para as educar e proteger.

16/03/10

A Escola (xv)

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No país socialista, a Escola é, em primeiro lugar, uma instituição de socialização, e só depois uma instituição de aprendizagem. É na escola que os jovens vivem pela primeira vez a experiência socialista e democrática da igualização. Tudo na Escola é definido ao detalhe pelo Estado democrático, os programas, os métodos de ensino, os códigos de disciplina. A política permeia todas as relações dentro da Escola, entre professores, entre alunos, entre funcionários, entre professores e alunos, entre alunos e funcionários, todas as relações possíveis são relações políticas, e relações entre iguais. Os professores são iguais aos alunos, e os alunos iguais aos funcionários. As decisões escolares são tomadas por maioria, pondo os alunos em vantagem. Os futuros líderes políticos do país despontam, em geral, na Escola - e são, em geral, alunos, não professores ou funcionários. Para que todos tenham igualmente sucesso escolar, os padrões de avaliação são reduzidos aos mínimo. A qualidade de uma Escola mede-se pelo grau de conformidade, ou de satisfação social dos alunos, que consegue obter, ocupando as chamadas escolas problemáticas os últimos lugares do ranking.No país liberal, a Escola é, em primeiro lugar, uma instituição de aprendizagem e só secundariamente um local de socialização. A Escola visa primariamente preparar profissionais para a vida activa no mundo dos negócios, mas também no da política ou noutro. Tudo é definido pela própria Escola - programas, pedagogias, regras de disciplina - ou até pelo professor individualmente. A variabilidade entre Escolas é considerável, e até dentro da mesma Escola. Todas as relações dentro da Escola possuem um carácter espontâneo, assemelhando-se a relações de negócios, envolvendo reciprocidade. Os professores mais bem pagos são aqueles que mais conseguem impressionar os alunos, e atraír novos alunos; os alunos são avaliados pelo professor, mas também avaliam o professor; o professor ensina os alunos mas também espera aprender com eles. Os padrões escolares variam muito de Escola para Escola, e até dentro da mesma Escola, segundo o grau de exigência do professor. A qualidade de uma Escola é avaliada pelo sucesso profissional dos seus alunos, as mais caras sendo em geral melhores que as mais baratas.No país católico, a Escola combina as duas funções de instituição de aprendizagem e de instituição de socialização, misturando as relações de natureza espontânea com as relações políticas ou oficiais. A função comunitária da Escola visa moderar os excessos da educação familiar, que é excessivamente personalizada, e preparar os alunos para viverem em comunidade. A função de aprendizagem visa preparar os alunos para a vida activa, nos negócios, na política, ou noutras actividades. A autoridade política intervém na Escola para definir o mínimo comunal, em termos de programas, métodos de ensino, regras de disciplina, deixando depois à Escola liberdade para definir tudo aquilo que está para além deste mínimo. Os padrões mínimos de avaliação são geralmente definidos politicamente, podendo a Escola ou o professor depois impôr os seus próprios padrões por cima destes. A qualidade de uma Escola é avaliada pela qualidade dos seus professores, em primeiro lugar, mas também dos alunos que produz, não apenas do ponto de vista académico ou profissional, mas também segundo as outras funções (v.g., familiares, públicas) que eles são chamados a desempenhar na vida, e ainda segundo as virtudes cristãs de temperança, justiça, honestidade, etc.

A Educação (xiv)

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No país socialista a principal instituição educacional é o Estado, seguindo-se a Escola (no sentido amplo, por forma a incluir a universidade) e só em último lugar a Família. O Estado controla a educação por forma a assegurar que ela é igual para todos e todos têm iguais oportunidades de acesso. O sistema educacional é organizado de cima para baixo, tendo o Estado no vértice e utilizando uma variedade de instituições públicas - escolas, universidades, infantários, institutos de formação e reorientação profissional, etc. A educação é essencialmente laica, e as instituições privadas e confessionais só são toleradas se se comportarem como as instituições públicas congéneres (v.g., programas, condições de acesso, etc.) e estando submetidas à tutela do Estado.No país liberal a principal instituição educacional é a Escola, seguindo-se a Família e só em último lugar o Estado. O sistema educacional é assegurado através de uma grande variedade de instituições privadas - escolas, universidades, infantários, institutos profissionais, etc. -, em concorrência umas com as outras e oferecendo no mercado uma grande diversidade de programas educacionais. As instituições confessionais são aceites, fazendo parte do leque de escolhas aberto aos cidadãos, e as instituições públicas de educação devem ser minimizadas. A política não tem qualquer lugar na definição do sistema de educação do país.No país católico, a principal instituição educacional é a Família, seguindo-se a Escola e só em último lugar o Estado. O sistema de educação é aberto a instituições privadas, confessionais e públicas, devendo estas últimas revestir um carácter subsidiário. A educação na família é excessivamente personalizada e, por isso, uma das funções da Escola - embora não a única - é temperar os excessos do personalismo com os valores comunitários. Em consequência, a autoridade política intervém no sistema de educação e esta intervenção faz-se prioritariamente ao nível local e subsidiariamente aos niveis regional e nacional.

15/03/10

Modelos Sociais (xiii)

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No país socialista acredita-se que é possível mudar o mundo para melhor, que o mundo será melhor se todas as pessoas forem iguais, e que o Estado é a instituição apropriada para operar essa mudança. O primeiro passo para que um homem seja respeitável neste país é que seja um democrata. É aceitando a igualdade política na qual se funda o Estado democrático que um homem adquire, em primeiro lugar, o estatuto de pessoa decente e o de cidadão respeitável. Porém, isso não basta para se tornar um modelo social, aquele tipo de homem que todos desejariam imitar. Para isso, é necessário que ele participe activamente na construção do Estado democrático, que tenha algum poder - ainda que seja pequeno - para o influenciar na direcção desejada e de melhoria da sociedade. Esta é a figura do político democrata. O político democrata é o modelo social no país socialista.
O país liberal também acredita que é possível mudar o mundo para melhor, que o mundo será melhor se todas as pessoas forem livres de prosseguirem os seus próprios fins na vida sem qualquer subjugação à comunidade. A iniciativa individual é agora o motor da mudança e a instituição privilegiada é a empresa. O homem de negócios - o businessman - é a figura respeitável do país liberal, incluindo quando os negócios são praticados a nível individual (profissionais liberais). Naturalmente, o modelo social do país liberal, aquele que todos gostariam de imitar, é o grande homem de negócios, o grande empresário que, pela sua iniciativa conseguiu produzir algum produto novo, ou mais barato, que contribuiu para tornar mais feliz a vida de milhões de pessoas espalhadas pelo país e o mundo - e que, pelo caminho, se tornou milionário.
O país católico não acredita que o mundo possa ser melhorado pela acção individual ou colectiva do homem que leva o liberalismo e o socialismo a concentrarem-se no futuro e no abstracto. O futuro a Deus pertence, a única realidade concreta é o presente, o aqui e o agora. O homem chega ao mundo e aquilo que encontra é tudo, em última instância, dádiva de Deus, incluindo ele próprio. Compete, portanto, ao homem, em primeiro lugar, cuidar de si próprio, e daqueles que Deus pôs à sua guarda - a começar pela sua família. Tudo o resto é secundário. Se ele conseguir educar bem os seus filhos, de forma a torná-los pessoas decentes, essa é a mais importante contribuição que ele pode dar ao mundo. É uma contribuição pequena, mas é a única que está garantidamente ao seu alcance. As outras não, dependem de Deus. O pai de família é o modelo social do catolicismo.

Relações Sexuais (xii)

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O país socialista visa tornar as pessoas todas iguais. Este é o país em que a mulher se torna igual ao homem (v.g., na maneira de vestir, na forma de falar, nas profissões que desempenha), e o homem igual à mulher (v.g., nos cuidados pessoais, na partilha das tarefas domésticas). Este é também o país onde ninguém precisa de ninguém (e todos precisam do Estado), onde todos são indiferentes uns aos outros e ninguém tem necessidade de atraír o outro. É difícil imaginar uma relação sexual mais fastidiosa do que entre um homem e uma mulher que são praticamente iguais e largamente indiferentes um ao outro. Este é o país das relações sexuais casuais, e das relações múltiplas. Tanto faz uma relação sexual com uma pessoa como com outra porque, na prática, são todas iguais. Neste país, o sexo constitui uma fonte de prazer na vida sobretudo para os homossexuais, porque aí as relações são entre iguais. O país socialista é o reino dos homossexuais. Os homossexuais acabarão por ganhar um estatuto igual ao dos heterossexuais e exibem-se em público como modelo da sexualidade socialista. O homossexual é o role model da sexualidade masculina no país socialista.
O país liberal está baseado na prossecução do interesse-próprio. Este país valoriza a diferença, porque só na diferença existem oportunidades de negócio. Por isso, este país não valoriza a homossexualidade. O modelo sexual prevalecente é o modelo heterossexual, mas as relações sexuais entre um homem e uma mulher assemelham-se a relações de negócios. A própria relação pessoal que conduz à sexualidade tem frequentemente origem no mundo profissional, entre dois colegas de trabalho ou parceiros de negócios. As relações sexuais são rápidas, superficiais, indo directo ao assunto, e terminam logo que uma das partes perca o interesse, deixando a mulher frequentemente em situação de desvantagem. Existe falta de intimidade nas relações sexuais, tal como nas relações pessoais. As relações sexuais são mecânicas e falhas de intensidade, quase por dever de ofício. A figura do giggolo é talvez aquela que melhor representa o role model da sexualidade masculina no país liberal.
O país católico assenta no amor ao próximo e isso, desde logo, deixa antever a intensidade da sua vida sexual. Este é o país onde cada homem e cada mulher ambiciona dar amor ao outro, como um acto de caridade. A ideia é tornar o outro feliz, mais do que a si próprio. Neste país de sexualidade reprimida, as relações sexuais entre um homem e uma mulher são precedidas de longos períodos de namoro feito de jogos de sedução, de olhares e insinuações, de bilhetes trocados e beijos escondidos. os preliminares da relação sexual são tão importantes como a sua concretização. Quando, finalmente, eles se encontram a sós, as tensões, os desejos, os sentimentos tanto tempo reprimidos, tornam a relação sexual de uma intensidade indescritível. O role model da sexualidade masculina no país de tradição católica é o padre. É no padre que estão reunidos os extremos que, combinados num adequado equilíbrio, maximizam a intensidade da relação sexual. Por um lado, o padre é o profissional do amor ao próximo; por outro, a sua sexualidade é absolutamente reprimida. Não há homem que saiba amar como um padre, porque ele é o profissional do amor. E não há homem também mais carente, mais ardente e mais desejoso de amor físico do que ele. Uma mulher que consiga levar um padre ao pecado, vai ser recompensada. Ele levá-la-à ao céu.

14/03/10

Relações Pessoais (xi)

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No país socialista todas as pessoas dependem, em última instância, do Estado para os seus empregos, a assistência no desemprego, na diença e na velhice, até para a educação dos filhos. Ninguém depende de ninguém, e todos dependem do Estado. A característica principal das relações pessoais neste país é a indiferença. Todos se sentem iguais porque todos têm acesso aos mesmos serviços prestados pelo Estado. Não precisam uns dos outros. O socialismo desencoraja todo o sentido comunitário que não seja o país e, a prazo, acaba por tornar todas as comunidades de nível inferior dispensáveis, incluindo a família. Existem poucos casamentos.No país liberal é o interesse que domina as relações entre as pessoas. As pessoas têm necessidade umas das outras por interesse-próprio, para obterem um emprego ou venderem um produto. As relações pessoais tendem a assemelhar-se a relações de negócio, rápidas, superficiais e contratuais, durando apenas enquanto durar o interesse das partes, e não envolvendo nunca intimidade. Mesmo as relações de família tendem a ser contratualizadas, e a família tende a desfazer-se logo que cesse o interesse de, pelo menos, uma das partes. Os divórcios são frequentes.No país católico, as relações de família e de negócios tendem a interpenetrar-se. A comunidade é pequena e todos se conhecem. Todos precisam uns dos outros e todos valorizam cada um no desempenho das suas respectivas funções (padeiro, informático, advogado, etc.). A característica principal das relações pessoais é a amizade - uma forma do amor cristão ao próximo. O elevado sentido comunitário encoraja o espírito associativo e de família. O casamento é encorajado e os divórcios são raros.

13/03/10

Reforma e Velhice (x)

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No país socialista existe um sistema nacional de pensões de reforma, para o qual todos são obrigados a contribuir durante a sua vida activa, e do qual receberão a sua pensão de reforma. As contribuições são obrigatórias e as condições em que cada pessoa se pode reformar são fixadas pelo Estado - idade da reforma, montante da pensão, etc. Os idosos que perderam a autonomia e que não diponham de outras soluções, terão à sua disposição uma rede de lares para idosos gerida pelo Estado, onde acabarão os seus dias.No país liberal cada um é suposto prover para a sua própria reforma através de poupanças realizadas durante a sua vida activa e aplicadas em produtos financeiros disponíveis no mercado (depósitos bancários, acções, fundos privados de pensões, rendas de imóveis). A velhice é um risco maior no país liberal porque, na ausência de poupanças adequadas, um homem fica â mercê de instituições privadas de solidariedade que disponibilizam hospícios para os desalojados, em condições de impessoalidade não muito diferentes dos lares de idosos do caso anterior.No país católico, a reforma é, em parte, assegurada pelo próprio, através de poupanças durante a sua vida activa e, em parte, por arranjos comunitários espontâneos (família, caixas de pensões, associações de assistência mútua, etc.), ou institucionais (v.g., Igreja, Junta de Freguesia). Os idosos vivem os seus últimos anos no seio da família e da comunidade com funções activas numa (v.g., cuidar dos netos, funções domésticas) e noutra (v.g., assistência aos pobres e doentes) e, em casos de incapacidade, em instituições comunitárias próximas da sua família e dos seus amigos. A pessoalidade no tratamento dos velhos é uma característica do país de inspiração católica que resulta do seu sentido comunitário.

11/03/10

Criatividade (ix)

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Não é fácil ser criativo num país socialista. A economia é dominada pelo Estado e por grandes empresas públicas. Este é o reino da burocracia, todas as tarefas, todos os produtos, todos os procedimentos estão estandardizados e obedecem a prescrições rígidas. O Estado e as empresas públicas sobrevivem mesmo sem inovar, porque não estão sujeitos à disciplina das perdas. Os empregados comportam-se como funcionários públicos, fazem aquilo que lhes mandam fazer. Ninguém deseja ver perturbada a paz, a segurança, o rame-rame que se vive num departamento do Estado ou numa empresa pública. O homem inovador tem mais probabilidades de ser visto aqui como um perturbador da orrem estabelecida, do que como um herói, e acabar despedido.No país liberal existe uma grande pressão à inovação. A inovação cria novos produtos, melhora os produtos existentes, inventa novas tecnologias e processos de produção mais baratos, e que dão mais lucros à empresa. Porém, tudo isto se processa dentro de uma grande empresa, às vezes muito grande. O homem inovador tem acima de si vários escalões da hierarquia, que não são necessariamente receptivos às suas ideias visionárias; e, ao seu lado, tem dezenas de colegas que competem com ele para a próxima promoção, e que não serão propriamente adeptos de o ver subir a ele. Finalmente, se o inovador conseguir vingar dentro da organização, e a inovação tiver sucesso comercial, os lucros são da empresa, não do inovador.Total liberdade criativa possui o empresário do país católico, porque na sua empresa familiar ele é que é o patrão. Não apenas liberdade, mas também o interesse, porque no caso da inovação ter sucesso é ele que beneficia por inteiro. É certo que os recursos da empresa familiar, como o dinheiro, o tempo, etc., ao dispôr do empresário familiar não são grandes. Porém, não é o dinheiro, nem o tempo nem qualquer outro recurso que pode inovar. Só existe um recurso que pode inovar, que é a cabeça do ser humano, e essa o empresário familiar trá-la sempre consigo. A economia de país católico é propensa à criatividade e a uma criatividade realista, que é aquela que visa satisfazer melhor, ou mais barato, as necessidades de pessoas que ele próprio conhece - os seus vizinhos.

Flexibilidade (viii)

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O país socialista responde às necessidades da população nacional através do Estado. Quando as necessidades da população (procura) se alteram, um tempo vai passar até que as novas necessidades sejam vistas pelo poder político como possuindo uma dimensão nacional. Só então, o Estado (oferta) - com a sua máquina pesada e lenta - tratará de organizar a produção para se adaptar às novas necessidades. A oferta reage com lentidão à procura. O desemprego dos recursos, que resulta do desajustamento entre a oferta e a procura é inevitável. A sua readaptação ao processo produtivo exigirá, em geral, a intervenção do Estado (v.g., cursos de formação e reorientação profissional, subsídios de deslocação, etc).
O liberalismo responde às necessidades da população mundial (procura) através da empresa privada, frequentemente multinacional (oferta). Quando as necessidades da população mundial se alteram, a lógica do lucro favorece um reajustamento mais rápido da oferta á procura do que no caso anterior. Recursos serão prontamente lançados no desemprego, e a sua reafectação pode exigir custos intoleráveis para o trabalhador e a sua família (v.g., emigração). Numa economia liberal, os trabalhadores devem estar prontos a mudar várias vezes de profissão ao longo da vida e a andarem com a casa às costas mundo fora. A alternativa é o desemprego e a obsolescência do seu capital humano.O catolicismo responde às necessidades da população local (procura), geralmente através da pequena empresa familiar (oferta). Quando as necessidades da população local se alteram, o empresário, que vive no meio dela, pode conhecer e acompanhar essa alteração desde o primeiro sinal, e gradualmente ajustar-se a ela. Esta é a economia em que a oferta mais perto está da procura - na realidade, convive com ela - e onde mais intimamente a conhece. Ao mesmo tempo, a empresa familiar, sendo pequena, possui uma capacidade de ajustamento que não está presente nem no Estado nem na grande empresa privada. O desemprego ou a obsolescência dos recursos nesta comunidade é muito pouco provável.

O Trabalhador (vii)

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No país socialista, a vida do trabalhador está dependente do Estado. Desde que exista uma necessidade, e ela possua uma escala suficientemente nacional, compete ao Estado organizar a produção para a satisfazer. A natureza da produção, a sua localização e as condições em que será efectuada (tecnologia, salários, horários, empresa pública ou privada, etc.) serão determinadas pelo Estado. O trabalhador segue as decisões do Estado, as quais determinarão onde vai viver, o que vai fazer e em que condições exerce o seu trabalho. Neste país os trabalhadores devem estar preparados para emigrar dentro das fronteiras nacionais à procura de emprego.No país liberal, a vida do trabalhador está dependente do mercado. Neste país, a produção é feita para o mercado mundial. É o mercado internacional que selecciona quais os bens a produzir, os locais (vilas, cidades, países) onde eles se vão produzir, e as condições em que serão produzidos. O local onde o trabalhador vai viver, o tipo de emprego que vai obter, e as condições em que o vai desempenhar são determinadas pelo mercado. O liberalismo impõe a máxima mobilidade aos trabalhadores, a qual pode ir até à emigração para o estrangeiro.No país católico, a vida do trabalhador está dependente da comunidade local. A produção é organizada para satisfazer as necessidades da comunidade local. Aquilo que se produz é determinado pelo mercado local, eventualmente corrigido pela intervenção subsidiária da autoridade política local. Cada trabalhador é livre de organizar a produção como lhe aprouver, normalmente sob a forma de uma empresa familiar. Este país não favorece a emigração nem para outras localidades do país, menos ainda para o estrangeiro. Este é um país propenso a que um trabalhador se torne empresário.

Política Económica (vi)

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O socialismo pôe o ênfase na comunidade nacional. A produção deve ser organizada para servir o país e a empresa privilegiada é a empresa possuindo uma dimensão nacional, frequentemente revestindo a forma de empresa pública. A política económica pratica-se à escala do país e para servir os interesses do país. A gestão da economia é feita a partir do Estado central através de políticas (fiscal, monetária, etc.) que afectam todos de forma igual. A política macroeconómica de inspiração kaynesiana, e a intervenção do Estado na economia, encontram o seu reino na economia de inspiração socialista.
O liberalismo coloca o ênfase na comunidade internacional. A produção deve ser organizada para servir indistintamente o mundo e a empresa privilegiada é a empresa possuindo uma dimensão internacional ou multinacional. O liberalismo rejeita a ideia de uma política económica e, no máximo, aceita a existência de uma instituição supranacional cuja função principal é a de estabelecer e garantir uma legislação eonómica - as chamadas regras do jogo - que seja igual para todos os países, e que sirva para arbitrar os conflitos de interesses entre países. A economia liberal é o reino do funcionamento espontâneo dos mercados.
O catolicismo enfatiza a comunidade local (vila, cidade). A produção deve ser organizada para satisfazer as necessidades locais, e a empresa privilegiada é a empresa local, revestindo frequentemente a forma de empresa familiar. A política económica exerce-se primariamente ao nível da localidade e só subsidiariamente ao nível da região e do país. A política económica entre localidades reveste sobretudo a forma de acordos comerciais, envolvendo clausulas de protecção e reciprocidade, e de joint ventures tendentes à produção conjunta de bens que cada uma das comunidades não consegue assegurar por si própria. A economia de inspiração católica procura encontrar um compromisso entre o funcionamento livre dos mercados e a intervenção das autoridades políticas, a qual deve ser sempre subsidiária.

08/03/10

Desemprego (v)

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Tão importante como saber quais são as suas perpectivas de emprego é saber como é que você vai viver se ficar desempregado.
No país socialista, o Estado paga-lhe um subsídio de desemprego. Até lhe paga cursos de reorientação profissional e dá-lhe um subsídio de realojamento se você encontrar um emprego numa cidade diferente da sua. Certo é que, findo um certo período, você vai ter de possuir um emprego, caso contrário é o Estado que lho arranja e o obriga a trabalhar. Em última instância você acabará a fazer aquilo que o Estado lhe mandar, e este é o estádio último do servile state a que se referia Belloc.
No país liberal, o desemprego é um grande risco. Se você não poupou o suficiente para fazer face a este risco, você vai ficar literalmente na rua, sem ninguém que lhe acuda. Talvez algumas organizações sociais espontâneas de assistência social, normalmente ligadas a movimentos religiosos, o ajudem. Poderá acabar, por exemplo, num hospício da Salvation Army, onde terá cama, mesa e roupa lavada, e até cuidados de saúde. Os outros que lá vai encontrar serão como você, pessoas sem qualuer esperança de arranjarem um emprego. Será esta, a partir de agora, a sua "família".
No país católico, você recorre aos pais, se eles ainda forem vivos. Ou então recorre à irmã pedindo-lhe dinheiro emprestado, e prontificando-se a ajudar o cunhado lá na padaria; ou a um amigo, para lhe arranjar emprego. Em última instância recorre ao padre da freguesia, o qual pede à mulher do industrial se ele arranja lá na fábrica alguma coisinha para o rapaz ("ele é tão bom rapaz..."), nem que seja como porteiro. Uma coisa é certa, você não vai ficar na rua nem ninguém o vai internar num hospício. Alguma coisa se há-de arranjar. Este país nunca deixa caír ninguém, nunca ninguém fica para trás, aparece sempre alguém a dar uma mãozinha, a pôr a mão por baixo. Disso pode estar certo. É a caridade cristã a funcionar, o valor mais alto do catolicismo, logo a seguir à vida.

Empresários (iv)

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É provável que um dia, cansado de ser empregado, você deseje tornar-se um empresário, e ser livre para prosseguir o seu próprio sonho e ser um homem independente.
No país socialista, vai ter muita dificuldade. Neste país, os principais sectores de actividade estão monopolizados pelo Estado, e nos outros é necessária uma licença do Estado, a qual não lhe será necessariamente concedida. Mas ainda que seja, não pense que vai ser livre de gerir a sua própria empresa como quer. Através de uma multiplicidade de prescrições, o Estado regulamenta ao detalhe como é que as empresas podem funcionar e as obrigações a que estão sujeitas. No final, o Estado leva em impostos metade do seu salário de gestor e dos seus lucros de empresário. Os empresários são vistos com desconfiança neste país. Este é o país que valoriza a igualdade e, portanto, a submissão. Ser empresário é querer ser independendente, abindo o caminho para a diferença. Se você quer ser empresário neste país, ai ter tudo contra si.
O país liberal é o país, por excelência, do empresário (businessman). Qualquer um pode constituír uma empresa e o céu é o limite. Este é o país dos empresários bilionários e das grandes empresas, às vezes multinacionais, e é aqui que reside a única dificuldade. Você tem toda a liberdade para abrir uma empresa, mas nos sectores mais lucrativos, vai-se defrontar com as grandes empresas estabelecidas, frequentemente organizadas em cartel ou protegidas pelo Estado, que o desencorajam e, no limite, o arruinam. Tenha um cuidado: se você falhar, vai ficar sozinho e arruinado, e ninguém lhe deita a mão.
O país católico é o reino das pequenas empresas familiares e concorrenciais. Basta uma pequena diferença em relação às empresas existentes no sector, que pode ser apenas o carácter, a simpatia ou a competência técnica do empresário, e é suficiente para você sobreviver, e até prosperar. Tem o apoio da sua família e os familiares e amigos serão frequentemente os seus primeiros clientes, e os clientes mais leais. Por isso, quando atingir o sucesso, vai ter de retribuír à comunidade aquilo que ela fez por si, partilhando os seus lucros com ela em obras comunitárias. Se falhar no seu projecto empresarial, alguém lhe dará a mão - um familiar, um amigo -, arranjando-lhe um emprego. Ao contrário do país liberal, este país não irá deixá-lo crescer excessivamente como empresário, mas, em caso de falhanço, também não o deixará sozinho e arruinado. Este país oferece um compromisso entre o país liberal, em que o businessman de sucesso é um herói, e o pais socialista onde o businessman tende a ser visto como um vilão.

Emprego (iii)

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No país socialista, o mais provável é que você encontre um emprego na administração do Estado ou numa empresa pública. Será um funcionário público (public servant), entra às 9:00 e sai às 17:00 e passa o seu dia a cumprir prescrições que vêm da hierarquia. É neste país que se realiza a situação descrita por Hilaire Belloc no seu clássico The Servile State. O trabalho é aborrecido e servil, não existe nele nenhum lugar para a imaginação e a criatividade. Os seus colegas de trabalho gostam tanto daquilo que fazem como você - nada. Ninguém vai morrer de trabalho neste país, porque ninguém tem gosto pelo trabalho. Em nome do ambiente, da segurança, da transparência, etc., serão impostas tantas regulamentações a cada tarefa do trabalho humano, que no fim ela acaba perfeitamente prescrita e estandardizada, e qualquer um a pode fazer no seu lugar. Você sente-se absolutamente dispensável no seu trabalho.No país liberal, o mais provável é que você se empregue numa empresa privada, talvez até numa grande sociedade anónima, como uma multinacional. Você vai ser avaliado por aquilo que produz, e só por isso. Terá liberdade de acção, mas pode ter de trabalhar vinte horas por dia. Se, ainda assim, não mostrar performance, será despedido. Este é o país dos workaholics, de pessoas que vivem para o trabalho e só para o trabalho. Alguns, matam-se a trabalhar e, por vezes, morrem ricos. Neste país não interessa como o trabalho é feito, o que interessa e´que seja feito, e o mais rapidamente possível. Produtividade - é a palavra de ordem.No país católico, a probabilidade é que o seu emprego seja numa empresa familiar porque é aí que estão a maior parte dos empregos. Espera-se de si diligência e lealdade. Terá liberdade para criar e inovar, os seus sucessos e os seus falhanços serão partilhados pela família do patrão e até é provável que acabe a fazer parte da sua família alargada. O trabalho é também um local de socialização, e intercalado por conversas sobre a família e os amigos. Muitos dos problemas do trabalho e muitos negócios resolvem-se à mesa, ao almoço e ao jantar. Neste país, você vai ter de trabalhar e de ter gosto pelo trabalho, mas ninguém espera de si que viva para o trabalho e se mate a trabalhar. O trabalho é a expressão da criatividade humana e cada um é encorajado a realizar o seu trabalho à sua maneira. Trabalhar é um dever, mas o trabalho é para o homem e não o homem para o trabalho (Cat: 2427-8). É a solução de equilíbrio.

Corrupção (ii)

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No país socialista são os políticos e os gestores das grandes empresas públicas que dominam a economia, e eles tomam decisões com o dinheiro dos outros - o dinheiro da massa anónima dos contribuintes, que não possuem meios eficazes para os fiscalizar. A porta está aberta para que eles utilizem esse dinheiro em proveito próprio. A corrupção é um traço característico do país socialista.
E também do país liberal. Aí são os gestores das grandes sociedades anónimas e multinacionais que tomam decisões com o dinheiro dos outros - a massa anónima de accionistas.
Pelo contrário, o país católico minimiza a corrupção. Estes é o país das pequenas empresas familiares. Não é fácil a um empregado utilizar em proveito próprio o dinheiro do patrão, sob os olhos deste. A corrupção será sempre pequena porque os interesses são pequenos - as empresas são pequenas e o Estado também é pequeno. Também existe corrupção no país católico, mas não há exageros.

Crises Económicas e Financeiras (i)

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O país liberal está sujeito a crises económicas e financeiras. Basta que uma grande empresa abra falência para ela desencadear efeitos devastadores em todo o país e até no mundo. (A actual crise financeira foi desencadeada pela falência do banco americano de investimentos Lehman Brothers). Sectores inteiros de actividade podem ser arrastados (como o sector da banca de investimentos) e a crise propagar-se a todo o país e até a outros países (a Islândia, o país mais desenvolvido do mundo segundo a ONU, praticamente desapareceu do mapa económico em resultado da crise - os seus bancos privados eram maiores que o país).
No país socialista, as crises económicas e financeiras também são possíveis, e os seus efeitos são ainda mais abrangentes. Neles, as crises resultam não da falência de grandes empresas privadas, mas da insolvência dos Estados nacionais (como agora na Zona Euro está a acontecer com a Grécia e, em menor medida, com a Espanha e Portugal). No país socialista, o Estado é o maior empregador e a maior instituição económica, de tal modo que toda a actividade económica do país depende, directa ou indirectamente, do Estado. A insolvência do Estado corresponde ao colapso económico do país.
No país católico, pelo contrário, não há grandes instituições. A maioria são pequenas empresas familiares. O Estado é geralmente pequeno, porque é subsidiário, e mesmo as grandes empresas familiares só podem atingir uma dimensão moderada (para crescerem necessitariam de recorrer a capitais externos à família, perdendo-se o controlo familiar). Neste país, uma empresa familiar pode ir à falência, que não tem efeitos visíveis na sociedade. Pode até o Estado declarar-se insolvente que a economia continua a funcionar através da sua enorme teia de empresas familiares. Não há crise que destrua esta sociedade ou a leve ao colapso, porque ela é como um tecido feito de uma malha muito pequena e muito apertada de relações interpessoais e empresas familiares. Também existem crises económicas e financeiras no país católico, mas nunca são catastróficas.

07/03/10

Platitude

Num país socialista a principal instituição é o Estado, num país liberal é a empresa privada, num país católico é a família.
Por isso, se você viajar de avião sobre um país imaginário de tradição socialista, depois sobre um outro de tradição liberal e, finalmente, sobre um terceiro de tradição católica, e concentrando a sua atenção sobre as instituição económicas, o que é que vai ver?No país socialista vai ver grandes edifícios, um deles até gigantesco, que praticamente tornam irrelevantes todos os outros. O maior é o Estado, os outros pertencem a grandes empresas públicas.No pais liberal não é muito diferente, grandes edifícios ainda dominam a paisagem económica e obscurecem tudo o resto, só que agora pertencem a empresas privadas - grandes sociedades anónimas, frequentemente multinacionais.No país católico é que o contraste é maior, porque todos os edifícios parecem minúsculos, e mesmo os edifícios grandes parecem pequenos em comparação com os dos outros países. A paisagem é agora quase plana, uma multiplicidade de minúsculas empresas familiares, onde mesmo as maiores ou o Estado têm uma dimensão moderada.Para quem gosta de grandiosidade e de observar de avião, o país católico parece decepcionante. Não há altos nem baixos, não há excitação - apenas platitude. Mas, experimente descer lá abaixo...