A Grécia está à beira do colapso económico e político. Logo a seguir, na fila de espera, estão os países católicos, Portugal, Espanha, Irlanda e Itália.
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O que é que correu mal na questão do euro? O facto de os intelectuais de cultura católica não pensarem pela sua própria cabeça, não darem importância às ideias, não terem uma doutrina económica que seja conforme à sua cultura. Nunca a desenvolveram. Fora da Teologia, não há doutrina católica sobre economia, política, sociologia, direito, etc. Os intelectuais de cultura católica, incluindo os professores nas universidades, limitam-se a repetir doutrinas de origem protestante em todos estes domínios.
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Se existisse um pensamento económico católico, o que é que ele teria dito sobre a adesão ao euro, e com que argumentos? Teria rejeitado. O Euro é uma ideia tipicamente da tradição socialista (protestante) que acredita que as comunidades se constroem de cima para baixo. É o típico construtivismo social.
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O pensamento económico católico teria argumentado que as comunidades não se constroem de cima para baixo. Constroem-se de baixo para cima e o povo, nos diferentes países, nunca tinha reclamado a necessidade de uma moeda única. O personalismo católico que, a nível comunitário, se exprime no respeito pelas diferenças nacionais, teria a acrescentado que aquilo que é bom para um país não é necessariamente bom para os outros. As diferenças de produtividade, por exemplo entre a Alemanha e Portugal, não iriam desaparecer com o euro. Pelo contrário, iriam manter-se, e, a prazo, isso seria fatal para o euro. Os alemães, na sua tradição protestante, vivem para o trabalho e realizam a vida no trabalho. Os portugueses, na sua tradição católica, vivem para gozar a vida, trabalhando o mínimo que podem para esse efeito. Finalmente, o princípio da subsidiaridade. Se as pessoas, nos seus arranjos espontâneos, nunca tinham acabado com as moedas nacionais, porque razão vai o Estado fazê-lo coercivamente, quando ninguém o chamou para isso?
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Pronto, mas agora já é tarde. Agora, avizinha-se um cataclismo económico e político que acabará com o Euro para os países católicos e também com a classe política que ao longo dos últimos vinte anos não teve a inteligência para evitar meter-se nessa aventura. Faltando-lhes a capacidade e o engenho para pensarem pela sua própria cabeça, o que significa pensarem de acordo com a sua tradição cultural, os intelectuais de cultura católica são uma espécie de "Maria vai com as outras".
Caro Pedro: tenho-o seguido há bastante tempo; continuo a apreciar muito a orto/heterodoxia do seu pensamento católico, invulgarmente corajoso. Estarei por perto comentado, concordando (é o caso deste post) e discordando, acreditando que o diálogo educado e racional é o que nos separará da bestialidade.
ResponderEliminar«não terem uma doutrina económica que seja conforme à sua cultura»PA
ResponderEliminarGrande verdade.
RB
Caro Pedro,
ResponderEliminar(Aqui há menos ruído...)
Introvigne reage à carta de Küng:
http://www.cesnur.org/2010/mi-kung.html
Weigle responde a Küng e espera réplica:
http://www.firstthings.com/onthesquare/2010/04/an-open-letter-to-hans-kung
Cumprimentos,
Publicada por Luís Cardoso em Governancia online a 27 de Abril de 2010 22:54